Quem é?
Jamal Khashoggi, 60 anos, escrevia para o jornal americano The Washington Post como colaborador. Nos últimos anos, começou a ganhar projeção internacional ao participar de debates acadêmicos e televisivos sobre as mudanças que estavam ocorrendo em seu país, a Arábia Saudita. Ele é um crítico da dinastia que governa seu país e, em especial do príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman, reformista que tem modernizado à fórceps a nação. Jamal chegou a viver exilado nos EUA por um ano. Antes, teve uma carreira bem-sucedida como assessor e porta-voz extra-oficial da família real. Ele se tornou famoso em seu país ao entrevistar Osama bin Laden, então jovem.
Como sumiu?
Jamal Khashoggi esteve no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, em 28 de setembro em busca de documentos para se casar com a mulher turca, Hatice Cengiz. Recebeu a informação de que deveria voltar na semana seguinte. No dia seguinte, ele foi a Londres para palestrar em uma conferência, voltando no dia 1º de outubro.
No dia 2 de outubro, um avião da Gulfstream com nove funcionários sauditas — entre eles um médico legista — pousou no aeroporto de Istambul, proveniente de Riad. Sauditas ficaram dois dias hospedados em dois hoteis perto do consulado. Eles tinham reserva para três dias, mas partiram no mesmo dia da chegada.
Nesse dia, Khashoggi entrou no consulado às 13h14min. Ele havia entregue seus dois celulares a Hatice, com a orientação de que procurasse ajuda, caso não retornasse. Às 16h, seis veículos deixaram o consulado. Dois deles, ficam na residência do cônsul.
Às 17h15min, um segundo avião com seis funcionários sauditas chega a Istambul. A aeronave parte uma hora depois, de volta a Riad, com escala no Cairo (Egito).
No dia 3 de outubro, Hatice chama a polícia, após esperar por 11 horas notícias de Jamal no consulado.
Como estão as investigações?
Investigadores realizaram na terça-feira buscas por "materiais tóxicos" na casa do cônsul-geral saudita, Mohammad al-Otaibi, em Istambul. Ele teria deixado a Turquia em voo comercial em direção a Riad, capital da Arábia Saudita.
O governo turco afirmou que "alguns materiais" no consulado, onde as buscas entraram pela noite e duraram mais de nove horas, foram "pintados por cima".
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu a retirada da imunidade dos agentes sauditas que podem estar envolvidos no desaparecimento do jornalista.
Um jornal turco informou que o relógio do jornalista teria gravado imagens e áudio de tortura e assassinato. Esse conteúdo teria sido enviado para um servidor fora do prédio do consulado e já estaria com os investigadores. Não há confirmação oficial se o material de fato existe.
Desde o primeiro momento, o governo turco disse que tudo indicava que o jornalista teria sido assassinado no prédio, o que a Arábia Saudita negou.
Nesta quarta-feira, um jornal pró-governo da Turquia, Yeni Safak, publicou um relato horripilante: o jornalista teria sido morto minutos após entrar no consulado, dentro do escritório do cônsul-geral, e não chegou a ser interrogado. A reportagem descreve o que seria uma gravação de áudio da morte de Khashoggi. O jornal diz que o cônsul-geral saudita, Mohammed al-Otaibi, pode ser ouvido na gravação, dizendo àqueles supostamente torturando Khashoggi: "Façam isso lá fora, vocês vão me colocar em apuros".
A resposta, segundo o jornal, foi: "Cale a boca se você quiser continuar vivo quando voltar à Arábia".
Khashoggi teria sido então levado para outra sala, onde o especialista forense saudita Salah Muhammad al-Tubaigy teria começado a cortar o corpo em cima de uma mesa com o jornalista ainda vivo. Al-Tubaigy teria colocado fones de ouvido para ouvir música enquanto começa o esquartejamento, encorajando outras pessoas a fazer o mesmo.