
Após uma semana em que a crise cambial bateu de novo às portas dos argentinos, com o peso despencando 20% em relação ao dólar em apenas 48 horas, o primeiro dia útil de setembro, nesta segunda-feira, é de expectativa. O governo do presidente Mauricio Macri corre para tentar recuperar a confiança dos mercados no país e deve anunciar nas primeiras horas da manhã um pacote econômico, mais um ao longo da história dos nossos vizinhos.
No fim de semana, Buenos Aires e o país mergulharam em rumores: os dois principais jornais argentinos anteciparam o que seria a medida mais drástica da Casa Rosada até agora para conter a crise: o corte de pelo menos 10 ministérios, segundo o Clarín ou 13, como previu o La Nación. As medidas são parte do esforço da Casa Rosada para reduzir déficit orçamentário. Ambos os jornais apostam que pastas de Ciência, Cultura, Energia, Agricultura e Turismo estão entre as que deixarão de existir.
Também nesta segunda-feira, o ministro da Economia, Nicolás Dujovne, deve anunciar outras medidas econômicas. Depois, viajará a Washington para definir os termos de nova ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo pediu ao órgão que antecipe "todos os fundos necessários" do acordo de US$ 50 bilhões a três anos anunciado em junho. Macri espera, assim, cobrir as necessidades financeiras de 2019, quando termina seu mandato. Em junho, a Argentina se comprometeu com o FMI em reduzir o déficit a 1,3% em 2019, mas a imprensa especula sobre um ajuste mais drástico para reduzi-lo a 0,4% no próximo ano.
Na terça, Dujovne deve apresentar à diretora do FMI, Christine Lagarde, os detalhes do novo compromisso que a Argentina assume em troca da aceleração dos pagamentos. Desde junho, o país já recebeu US$ 15 bilhões e na semana passada outros US$ 3 bilhões.
Desde que assumiu o poder em dezembro de 2015, o governo de centro-direita de Macri adotou um drástico corte de gastos do Estado, com o fim de subsídios, demissões e congelamento de contratações na administração pública, entre outras medidas de ajuste fiscal. Não foi suficiente. Na semana passada, a crise cambial elevou o risco do país a quase 800 pontos, o segundo mais alto da região, só comparado à quebrada Venezuela.
O novo drama argentino, iniciado em abril, atingiu clímax, mas, depois da desvalorização obteve uma tímida recuperação na sexta-feira, após aumento a 60% das taxas de juros e de vendas milionárias do Banco Central, diante da expectativa dos anúncios de hoje e amanhã.
Mesmo assim, o pessimismo impera. A empresa de consultoria internacional Capital Economics destacou em relatório que a confiança dos investidores no país ainda é frágil. Conforme a empresa, há também um risco claro de que o governo fracasse em apresentar um plano de austeridade convincente esta semana: "Seria um risco evidente para queda ainda maior do peso", diz o texto da consultoria.
Fantasmas de 2001 assombram. À época, a crise econômica fez com que o país tivesse cinco presidentes em um mês. Na semana passada, extenuados e revivendo o pavor, os argentinos voltaram a recorrer a estratégias conhecidas: quem pode compra dólares, quem não pode, antecipa compras e estoques para se proteger do aumento dos preços.