Migrantes venezuelanos estão usando o Rio Grande do Sul como rota para chegar ao Uruguai, segundo a ONG Idas y Vueltas. Mas não é de hoje esse deslocamento. Há venezuelanos já estabelecidos em Chuy. Natural de Maracaibo, no noroeste venezuelano, Ricardo Ferreyra, 37 anos, chegou em 2016 ao Uruguai, acompanhado da mulher, Marisela, e do filho Sebastián, oito anos. Depois de um mês em Montevidéu, a família resolveu se mudar para a Barra do Chuy, onde Ricardo trabalha com turismo. Seu relato à coluna ajuda a explicar as razões dos venezuelanos que fogem de seu país:
– A Venezuela nem sempre esteve assim, lamentavelmente. Em 2006, estávamos bem economicamente, chegamos a comprar carro zero. Mas, em 2010, os preços começaram a subir todos os dias. A qualidade de vida caía muito. Não se tinha o mais básico, remédio para febre, comida. Lembro de um caso que, quando conto, todo mundo fica me olhando, como se fosse filme de terror: antes de vir para cá, fiquei das 5h da manhã até as 6h da tarde, em uma fila interminável em um supermercado. Não se compra o que se procura. Trata-se de comprar o que se consegue.
Neste trecho do relato, Ricardo fala sobre a dificuldade de comprar remédio e o aumento dos preços:
— Minha esposa estava doente, e eu ia às farmácias em busca de remédio para que baixasse a febre e não conseguia. Primeiro, os preços começaram a subir uma vez por a semana. Depois, começaram a subir duas vezes por semana. Não me pagavam mais o salário. O que eu e minha esposa ganhávamos já não dava para coisas básicas. Tivemos de sair do país. Vendemos várias coisas que tínhamos.
Sobre a atual onda migratória de seus conterrâneios, relata:
– Eles chegam a Chuy e logo vão embora para Montevidéu, porque buscam manter suas vidas o mais parecido possível com a que tinham na Venezuela. Vejo muitos venezuelanos na Barra de Chuy. Estão ingressando pelo Brasil porque, por outras partes, há problemas com passaporte. Há pessoas que não podem se deslocar porque demora uma eternidade para darem o documento: não sei se é para que não saiam de forma massiva ou porque o país está tão decadente que não tem sequer papel para fazer passaporte.