Ainda que a crise venezuelana chame a atenção dos brasileiros por conta das cenas de selvageria observadas durante o tumulto do fim de semana na fronteira de Roraima, este não é um problema só do Brasil. A maioria dos migrantes que foge de seu país, já em avançado estado de de liquefação institucional, busca a Colômbia, não a nossa nação. Mais de 1 milhão de venezuelanos entraram em território colombiano nos últimos 15 meses (estima-se que no Brasil sejam 130 mil até agora). O fluxo para Equador e Peru é tão grave quanto.
Os vizinhos estão recrudescendo fronteiras e, como ensina o esquema físico dos vasos comunicantes, se aumentam as restrições de um lado, o drama tende a piorar do outro, no caso no Brasil. O Equador acirrou as regras de ingresso, depois que o governo de Lenín Moreno passou a exigir passaporte de quem entra. O Peru adotou medidas semelhantes. Como alerta o professor Gustavo Simões, em conversa com a coluna, o torniquete costuma ter efeito contrário – acelera a fuga, diante do medo de quem fica de que a situação piore.
A conta da demora do governo Michel Temer em lidar com a crise em Roraima começa a chegar. O envio da Força Nacional de Segurança, mais do que proteger as fronteiras, deve garantir a integridade da população mais vulnerável neste momento: os próprios migrantes que estão nas calçadas de Pacaraima.
Por que muitos venezuelanos preferem se amontoar em Roraima do que viajar para outros lugares do Brasil? Eles ficam porque têm a expectativa de que, se a crise em seu país passar logo, poderão voltar. É a ilusão de todo migrante que abandona seu lar. Um dia regressar. Mas a crise no país de Nicolás Maduro não passou e, ao que tudo indica, não passará tão cedo. Uma pesquisa coordenada pleo professor Simões, lançada este ano, aponta sinais de que, se tivessem condições de trabalho, os venezuelanos que estão em Roraima aceitariam se deslocar para outros Estados, o que pode favorecer a interiorização anunciada pelo governo.
Acerta o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, ao pedir uma reunião de emergência da entidade.
O maior êxodo da história recente do lado de cá do planeta não é um problema apenas de Brasil, Colômbia, Peru e Equador. É um drama da América Latina e assim deve ser tratado.