Para aposentar de vez o velho porta-aviões São Paulo, adquirido da França em 2000 e parado desde 2014, o Brasil comprou um novo navio de guerra, o Porta-Helicópteros Multipropósito Atlântico, do Reino Unido, pelo equivalente a R$ 440 milhões.
Entre os dias 1º e 24 de agosto, a embarcação construída há 20 anos e que já atuou em várias regiões de conflito pelo Reino Unido cruzou o Oceano Atlântico pela primeira vez com a bandeira brasileira, transportando 303 militares. Conforme especialistas, a aquisição dará maior capacidade de dissuasão e projeção de poder sobre o Hemisfério Sul. Desde que chegou ao Rio de Janeiro, há uma semana, passou a ser a principal embarcação da esquadra brasileira.
– A população se beneficia com a proteção das inúmeras riquezas disponíveis na zona econômica exclusiva brasileira, que corresponde a área oceânica equivalente à metade do território nacional – explica o comandante do navio, capitão-de-mar-e-guerra Giovani Corrêa.
O Atlântico tem capacidade para transportar até 17 helicópteros – sete deles podem operar simultaneamente no convés. Outra característica é sua autonomia: é capaz de cumprir três vezes o trajeto entre a América do Sul e a Europa sem precisar parar para abastecer. Do ponto de vista tecnológico, chama atenção os quatro radares – um deles com capacidade 3D, alcance de 200 quilômetros e apto a detectar 90 alvos ao mesmo tempo. A embarcação também foi projetada para abrigar o estado-maior em caso de confronto.
Construído pelas empresas Kvaerner Govan e Vickers Shipbuilding Enginnering Limited (VSEL), em Barrow-in-Furness, o Atlântico participou de ações humanitárias nas costas de Honduras e Nicarágua, atingidas pelo furacão Mitch, em 1998, e no Kosovo, em 1999.
Em 2000, esteve em Serra Leoa e, em seguida, contribuiu com ações no Iraque, por meio da Operação Telic. Em 2011, participou da Unified Protector, na Líbia. Em 2012, prestou apoio aos Jogos Olímpicos de Londres e, em 2017, realizou ações navais e humanitárias nas ilhas do Caribe atingidas pelo furacão Irma. Antes de ser rebatizado pelo Brasil, chamava-se HMS Ocean.
Era o navio-capitânia da marinha britânica até a entrada em operação do porta-aviões Queen Elizabeth, em 2017.
O São Paulo havia sido comprado em 2000 a um preço de US$ 12 milhões (R$ 48,9 milhões, pelo câmbio atual). Em 2017, foi anunciada sua “desmobilização”. O porta-aviões será desmontado e provavelmente vendido como sucata. Houve tentativas de recuperar sua capacidade operacional, mas o comando da Marinha entendeu que o programa de modernização exigiria “alto investimento financeiro e conteria incertezas técnicas”.
– O Atlântico foi uma compra de oportunidade para compensar a perda do São Paulo. Assim, consegue reter uma tropa qualificada que seria dispensada – avalia o especialista em assuntos militares e editor do site Defesanet.com.br, Nelson During.