A eleição no Chile, que reconduziu o ex-presidente Sebastián Piñera ao Palácio de La Moneda, no domingo, consolida a guinada latino-americano à centro-direita e antecipa um cenário provável no Brasil em 2018: a divisão da esquerda e o desinteresse dos eleitores. Alejandro Guillier não conseguiu aglutinar o eleitor progressista nem personificar o voto anti-direita.
A diferença de nove pontos no resultado final (54% de Piñera contra 45% de Guillier) é bem superior ao que os progressistas esperavam e obrigam a esquerda chilena a sentar no divã.
Para voltar ao La Moneda, Piñera precisou fazer concessões. Aceitou, indiretamente, a polêmica gratuidade da educação em nível superior, um dos projetos mais importantes de Michelle Bachelet, já antevendo a dureza que virá pela frente. O futuro presidente, que governou entre 2010 e 2014, não terá maioria no parlamento e precisa do apoio dos progressistas moderados para levar adiante seus projetos. Foi estratégico.
Se no plano interno, ao moderar o discurso, Piñera conquistou a classe média, em nível externo, contou com o apoio do presidente argentino Mauricio Macri, cujas declarações no Twitter a favor do chileno beiraram uma interferência política em assuntos internos do vizinho. Um alinhamento Chile-Argentina no cenário latino-americano não é improvável. Macri está mais para Piñera do que para Michel Temer. A proximidade com o colega chileno vai além da conta corrente comum, de cifras milionárias. Ambos foram donos de dois dos mais populares times de futebol em seus países: Macri do Boca Juniors, e Piñera do Colo Colo.
Além de Temer e Macri, o alinhamento de centro e de centro-direita, com políticas favoráveis ao livre-mercado, conta também com Juan Manuel Santos, na Colômbia, e Pedro Paulo Kuczynski. A esquerda populista segue tendo como bastiões de resistência os governos de Nicolás Maduro, na Venezuela, e de Evo Morales, na Bolívia.