Depois de atuar no Brexit britânico e na eleição de Donald Trump nos EUA, o exército vermelho travestido de internautas, sempre protegido pelo anonimato da internet, entrou em ação também no referendo na Catalunha. Perfis ligados ao Kremlin no Twitter aumentaram em cerca de 2.000% as suas menções à crise catalã, segundo ferramentas de análises das conversações públicas na internet. A campanha pelo separatismo recebeu impulsos de grandes redes financiadas diretamente pelo governo russo e por fábricas de fake news, que alimentam teorias conspiratórias.
Conforme o jornalista David Alandete, diretor adjunto do jornal espanhol El País, depois de um mês de intensa atividade nas redes, perfis russos, a maioria sem identificação, conseguiram colocar o tema do separatismo entre os mais relevantes em termos de política internacional nos fóruns da internet. O que chama a atenção é que não se tratava de motivar o debate de opiniões entre separatistas e os que apregoam a manutenção do território como parte da Espanha – que, aliás, pelas pesquisas, mostravam-se profundamente divididos.
O ativismo pró-Kremlin tinha como claro objetivo explicitar o referendo como parte de uma suposta crise do modelo de democracia ocidental e da União Europeia como instituição.
O show de mentiras incluía absurdos. Um exemplo: 700 prefeitos teriam sido presos na Espanha. Fake! Outro: o governo de Mariano Rajoy estaria preparando a invasão da Catalunha por mar. Fake! Os dois casos foram ventilados pelo site InfoWars.
Por trás desse aparato de desinformação estão contas anônimas, como a @WillyClicks, com 23 mil seguidores, que chegou a afirmar: “A Espanha é um Estado falido. Parem de retardar sua dissolução. Apoiemos a Catalunha”.
Outro perfil, do coletivo de hackers Anonymous (@YourAnonNews, com 1,7 milhões de seguidores), trazia a inscrição “A democracia, ou o que restou dela na Europa”, acompanhada de imagens de três pessoas feridas por forças de segurança.
Como de costume, teorias conspiratórias costumam fazer barulho nas redes. Um dos vídeos, retuitado 1,7 mil vezes em apenas três horas, mostrava agentes da polícia atacando um jovem em fuga. Junto, a inscrição:
“A polícia espanhola ataca eleitores catalães”. Atacaram. Mas, nesse caso, era mais uma mentira! O incidente específico fora no dia 14 de novembro de 2012 e não tinha nada a ver com a atual crise.
Mensagens alarmistas como essas já apareceram em outros momentos. Falharam nas eleições holandesas e francesas. Mas tiveram sucesso nos EUA, com a direita alternativa (Alt-right), e na Alemanha, com a Alternativa para a Alemanha (AfD).