A lei aprovada pelo parlamento da Catalunha em 7 de setembro e suspensa pelo Tribunal Constitucional da Espanha estabelece que, neste domingo, seja realizado o referendo pela independência catalã. Essa mesma legislação determina que, dois dias depois do anúncio dos resultados oficiais pelo órgão eleitoral, será realizada uma sessão ordinária do parlamento para efetuar a “declaração formal da independência e iniciar um processo constituinte”, em caso de vitória do “Sim” nas urnas. A partir daí, nem os catalães nem os espanhóis nem qualquer terráqueo pode precisar o que deve acontecer.
Os últimos países independentes do globo, oriundos da antiga Iugoslávia, e o mais recente de todos, o Sudão do Sul, foram forjados por conflitos étnicos e religiosos que culminaram na separação. Independente desde 2011, com uma guerra civil iniciada em 2013, o país africano de 12,5 milhões de habitantes tem uma das piores crises humanitárias do mundo. Declarou situação de fome em algumas áreas nas últimas semanas, e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que haja 270 mil crianças desnutridas no território.
No caso dos Balcãs, em 2006, Montenegro se tornou independente. Dois dias depois, a Sérvia se consolidou como nação autônoma. Em fevereiro de 2008, o Kosovo se separou da Sérvia, após anos de conflitos. O problema é que a independência nunca foi reconhecida pela Sérvia. Portanto, ainda há controvérsias se a segunda nação mais nova do mapa-múndi é, de fato, uma nação.
Alguém imagina uma cena assim na Espanha a partir de terça-feira? É pouco provável. A Catalunha representa 19% do PIB do país europeu (o RS, onde volta e meia alguns gostam de apregoar o separatismo, representa 6% do PIB do Brasil). Qualquer aposta não passa de exercício de futurologia, mas os indicativos até aqui sugerem uma tensão política que, se não descambar para a violência, pode acabar rendendo frutos para uma autonomia ainda maior para a Catalunha – mas não a independência.
Barcelona foi alvo de um atentado há menos de dois meses. O que se viu é que o plano dos terroristas era muito maior. Só não pode a energia depositada pela polícia em perseguir urnas eleitorais ser drenada da atenção ao terrorismo islâmico.