Sabemos que os japoneses são muito pontuais. Quando se chega a uma estação de trem, uma tabela de chegadas e partidas está fixada para leitura, e os horários são rigorosamente atendidos. Pois em 2002, o time do Grupo RBS saiu da cidade de Kobe e fomos para a estação do trem bala, ou Shinkansen, como eles chamam.
Estes veículos percorrem toda a ilha japonesa em uma velocidade não inferior a 300 km/h. Levamos nossas bagagens e todo equipamento de trabalho. Foi um erro grandioso. Nosso destino era Yokohama, o local do jogo final contra a Alemanha. Os trens tem um tempo para embarque e desembarque. As pessoas descem na estação e outras sobem, indo adiante.
Pequenas bagagens são carregadas pelos japoneses. Jamais grandes volumes de malas e caixas por falta de capacidade para guardá-los durante a viagem e pelo tempo perdido na colocação deles dentro dos vagões — especialmente quando se está numa cidade que fica no meio do trajeto previsto para o trem.
Hoje, fica claro que deveríamos ter alugado uma van ou um pequeno caminhão para transportar nossos equipamentos de rádio e TV, que são grandes e pesados.
Fato é que demoramos muito mais tempo do que o previsto pelos japoneses, que organizam o tempo de parada em cada estação. E olha que havíamos feito um mutirão para atirar tudo para dentro do vagão. O Chicão, nosso principal operador de som à época, subiu na cabine e recebia os objetos que atirávamos para ele. Lá dentro, outros companheiros procuravam dar lugar aqueles monstrengos.
Me recordo que o David Coimbra dava gargalhadas ao ver o desespero dos fiscais ferroviários que viam o trem atrasando por três ou quatro minutos, o que para eles é uma eternidade. Gritos e apitos dos fiscais não foram suficientes para que colocássemos todos aqueles objetos dentro do vagão. O nosso mutirão foi insuficiente para satisfazer os critérios daquele país.
Infernizamos todos eles. Foi um erro brutal, porém involuntário. Não era nosso desejo atrapalhar o serviço das pessoas e a normalidade do nosso trem de Yokohama. Mas, reconheço, causamos um estresse para eles.