A boa notícia veio na semana passada: o prefeito Sebastião Melo desistiu do projeto de conceder a Redenção à iniciativa privada – ao menos naqueles moldes em que o governo havia divulgado, entregando o parque inteiro para um grupo administrar.
Segundo Melo, a ideia agora é elaborar um modelo mais enxuto. Ou seja, devem ser concedidas apenas as estruturas da Redenção que podem gerar receita. Que dizer: em vez de pagar um aluguel para a prefeitura, como fazem hoje, os permissionários do pedalinho, do trenzinho, do parque de diversões, do centro gastronômico, dos bares e das floriculturas passariam a pagar o valor mensal a um grupo privado. Esse grupo privado, em troca, faria a manutenção do parque e os investimentos previstos no edital. Bem melhor assim.
Essa ideia, aliás, já havia sido publicada nesta coluna em outubro passado. Era uma sugestão do urbanista Benamy Turkienicz, professor de Arquitetura da UFRGS que considerava perigosa a proposta original da prefeitura. Porque, da maneira como havia sido concebido, o projeto dava carta branca para a iniciativa privada interferir em quase tudo. Artistas de rua, ambulantes, feirinhas, brechós, até professores que ensinam ioga ou corrida, todos seriam submetidos ao crivo da empresa gestora, o que ameaçava a espontaneidade típica da Redenção.
Na nova proposta, o grupo privado deverá arbitrar apenas sobre os espaços comerciais. É possível que o posto de gasolina, hoje desativado na esquina da Osvaldo Aranha com a José Bonifácio, entre no pacote. Mas já está definido que o estacionamento subterrâneo, um sonho antigo da prefeitura, não será mais construído. A garagem foi um dos principais alvos de críticas dos movimentos que se organizaram contra a concessão do parque. Eu aqui, sinceramente, não via maiores problemas.
Quem era contra o estacionamento argumentava que, no momento atual, em que a tendência são cidades cada vez mais pensadas para as pessoas, seria um retrocesso oferecer 577 vagas para automóveis. Há controvérsias: justamente para que a cidade seja mais agradável para as pessoas, me parece melhor que os carros estejam embaixo da terra – e, principalmente, estejam pagando para estacionar. Não faz mais sentido que a via pública continue servindo de depósito para armazenar um bem privado, ainda mais no entorno de um parque.
Mas tudo bem. Talvez nunca haja consenso quando o assunto for o espaço público mais importante da Capital. A boa notícia é que o pior ficou para trás: o prefeito entendeu que a Redenção jamais pode deixar de se parecer com a Redenção.