Acordeom a postos, sorriso no rosto, chapéu devidamente posicionado: atenção, o show vai começar! Duas valsinhas instrumentais abrem a playlist e dão a deixa para uma inspirada (e inusitada) versão de Lady Gaga na sanfona. É a senha para fisgar a atenção do público, que, todos os domingos, há exatos 10 anos, cai na farra com o Gaiteiro do Brique.
Por trás da performance na tradicional feira a céu aberto do Parque da Redenção, em Porto Alegre, está Philipe França Philippsen ou, simplesmente, Lipsen. Ator, cantor e músico, o porto-alegrense de 34 anos estreou na arte de rua durante uma viagem a Nova York, em 2012. A primeira apresentação com a gaita do avô - o Seu França - foi em plena Times Square.
Não deu outra: seduzido pela experiência, o multiartista voltou a Porto Alegre decidido a tocar no Brique. Desde março de 2013, acumula fãs, novas canções e apresentações não só na Capital, mas também em cidades como Paris, Berlim, Lisboa, Munique, São Paulo e até na TV Globo. O segredo do sucesso é a conexão. Não se trata apenas de tocar um instrumento.
— Entendi o poder do “olho no olho”. As pessoas não querem só ouvir música. Querem mais. Então, criei um estilo próprio — conta o ator, que integra o Grupo Cerco, uma das mais inovadoras companhias teatrais do Estado.
O roteiro passou a incluir piadas, histórias, enquetes e até um gracejo na hora de “passar o chapéu”, quando, de brincadeira, Lipsen toca o clássico “Não quero dinheiro”, de Tim Maia. Ele quer, sim, mas o trabalho na Redenção é muito mais do que isso.
— O Brique me acolheu como nenhum outro lugar no mundo — celebra o artista.
O repertório
Tem de tudo nas apresentações do Gaiteiro do Brique (que duram cerca de uma hora e meia), inclusive músicas "da moda" e do tipo "chiclete", da já mencionada Lady Gaga a Adele e Anitta, o que costuma chamar a atenção das pessoas, já que não é usual ouvi-las no acordeom.
A playlist inclui ainda uma série de hits dos anos de 1980. Lipsen conta que é apaixonado pelas canções da época e que brinca, durante os shows, dizendo que as melhores coisas foram feitas naquela década, inclusive ele, que nasceu em 1988.
Os três "cês"
Calejado nas surpresas que a arte de rua reserva aos artistas, Lipsen conta que existem três elementos incontroláveis, capazes de testar o talento de qualquer um que decida se aventurar nos palcos ao ar livre. São os três "cês": criança, cachorro e cachaça.
— Quando um deles entra na roda, dependendo de como o artista reagir, tudo pode ir por água abaixo, pode afastar o público e acabar com o show. Mas, se o cara tiver jogo de cintura e for bom no improviso e no carisma, pode usar o inesperado se sair ainda melhor — diz o gaiteiro.
Para comemorar
Neste domingo (12), Lipsen vai se apresentar no Brique da Redenção, na Capital, às 11h e às 15h para celebrar os 10 anos de atuação no local.