O título do texto não é figurativo. O nome dele é Mar mesmo: Mar Pedro Abreu. Nascido e criado em Torres, no Litoral Norte, Mar passou a infância e a adolescência em conflito com a identidade escolhida pelo pai, Edelson (ao lado, com o filho), até compreender que o velho pintor estava certo. Mar tornou-se um fotógrafo das costas e dos oceanos.
Antes de começar a pintar as curvas dos morros do Parque Estadual da Guarita, Edelson foi pescador. Quando o filho veio ao mundo, convenceu a mãe do menino, Luceia, de que ele deveria ter aquela imensidão azul registrada na certidão de nascimento. Conseguiu persuadir a mulher, mas acabou barrado no cartório. Recorreu à Justiça e ganhou.
Na escola, o pequeno sofreu bullying. Era chamado de “rio” e de “cachoeira” pelos colegas. Pensou até em alterar os documentos, mas perdeu o pai aos 15 anos e se pôs a pensar: “Que bem ele me deixou?”
— Meu pai era um grande artista, e eu não sabia pintar. Até que um dia, quando trabalhava em hotel, comecei a fotografar o nascer do sol na orla e nunca mais parei. Não sou artista do pincel, mas das lentes. Fotografar o mar é o meu maior bem. É a minha ligação com meu pai — conta ele.
Mar também estuda Enfermagem e trabalha em uma escola da cidade, mas faz poesia na fotografia, com os pés fincados na areia. Nas imagens, que correm o mundo nas redes sociais e já deram vida a uma exposição chamada Entre Mares (prestes a ganhar uma nova edição em 2023), o fotógrafo cria suas próprias “pinturas”. Ele gosta do crepúsculo e da aurora, das cores saturadas, dos contrastes.
— Meu nome é minha essência — reflete o artista.