Eduardo Leite acertou na previsão: um mês atrás, ao decidir afrouxar as restrições no momento mais crítico da pandemia – quando o Estado registrava 500 mortes em um único dia –, o governador dizia que os índices, a partir dali, começariam a cair. E caíram mesmo, sensivelmente, embora a situação ainda seja delicada.
Mesmo assim, infectologistas e epidemiologistas mantêm as críticas contra Leite. Dizem que as flexibilizações representam uma grave ameaça e que, por causa delas, tudo pode piorar daqui a pouco. Na avaliação desses especialistas, portanto, comércio e restaurantes ainda deveriam estar fechados – o que até poderia ser o mais correto, mas não parece ser o mais viável. Não aqui.
Passados 13 meses de pandemia, sem um consistente auxílio econômico à população, vai ficando cada vez mais claro que estender as restrições pelo maior tempo possível é uma ilusão. Não vai acontecer. O que não significa que se deva manter tudo sempre aberto, inclusive quando o mundo estiver desabando, como defende o prefeito Sebastião Melo. Pelo contrário.
As medidas que se mostraram acertadas até agora foram as que se basearam nas tendências. Ou seja, se os números indicam que a tendência para as próximas semanas é de queda nas mortes e internações, então tudo bem, que se afrouxem as restrições. Eduardo Leite fez isso. Mas, se os números apontam uma clara tendência de agravamento da pandemia, aí é fundamental restringir a circulação de pessoas. E isso precisa ser feito logo, antes que se perca o controle.
O Rio Grande do Sul perdeu o controle no fim de fevereiro, quando o sistema de saúde entrou em colapso. Eduardo Leite, naquela ocasião, errou – e errou feio. Todos os dados mostravam que a situação piorava a cada dia: havia uma tendência indiscutível de disparada nas internações, mas o governador demorou demais para fechar as atividades. Não era fácil, claro – sem o apoio dos prefeitos e da sociedade, Leite temia suspender a cogestão e ninguém respeitar as novas regras. Mas era a única medida plausível.
Não há como vomitar certezas em um momento como este. O que é possível – e saudável – é debater em cima de fatos concretos que, após todo esse tempo de pandemia, já podem ser analisados com algum distanciamento. Como de costume, minha impressão é de que os radicais estão errados: fechar tudo por muito tempo pode ser tão irresponsável quanto manter tudo sempre aberto.