É evidente que, no desespero, tudo pode acontecer: quando um candidato despenca nas pesquisas, uma estratégia recorrente é partir para apelação na reta final. Mas, ao que tudo indica, Manuela D'Ávila (PC do B) e Sebastião Melo (MDB) devem protagonizar uma campanha de nível neste segundo turno.
Não é só discurso. Existe mesmo a convicção, nas duas candidaturas, de que ataques mais violentos sairiam pela culatra – as próprias pesquisas internas revelam um eleitor saturado de tanta agressividade. Ainda mais o eleitor que Manuela e Melo buscam. Aquele mais radical, ideologizado, esse já definiu seu voto: a esquerda vai com Manuela, a direita vai com Melo.
O foco agora é no eleitor pragmático – que quer saber da vaga na creche, por exemplo, ou do atendimento de saúde – e no eleitor desiludido, que ajudou a engrossar o maior índice de abstenção entre as capitais (33%). Os dois candidatos entendem que só propostas concretas, que de fato melhorariam o cotidiano dessas pessoas, podem conquistá-las.
De qualquer forma, claro, sempre há uma carta na manga. Nos bastidores, a surrada "estratégia do comunismo" circula na campanha de Melo – é aquela tática de lembrar que Manuela é do PC do B, que o comunismo matou milhões etc. Melo, até aqui, se mostra contra essa abordagem.
Mas, caso mude de ideia, a candidatura de Manuela tem um revide engatilhado. Assessores mencionam vídeos antigos, em que Melo defende ideais de esquerda e até elogia um revolucionário marxista. Por enquanto, nada disso será usado na campanha – embora seja impossível controlar a militância virtual de ambos os lados.
O fato é que, no programa eleitoral que recomeça na sexta-feira (20) – e uma amostra disso foi o debate desta quarta (18), na Rádio Gaúcha –, Porto Alegre deve enfim testemunhar um bom confronto de ideias. Algo que faltou no primeiro turno, marcado por uma pobreza intelectual impressionante.
Com menos candidatos e com mais tempo de TV, espera-se que Manuela e Melo possam detalhar propostas com alguma profundidade. O emedebista nunca explicou, por exemplo, como levará a cabo sua promessa de implementar linhas de ônibus durante a madrugada – as concessionárias, que alegam prejuízo recorde, não vão topar. Manuela, por sua vez, ainda não esclareceu de onde virá tanto dinheiro para os investimentos que pretende fazer.
A expectativa é de enfrentamentos construtivos até o dia 29. Tomara. Que o ódio e o extremismo tenham ficado em 2018.