Ele já transformou lixão em praça, coloriu casas para elevar a autoestima da vila, fez da própria garagem uma sala de aula, pendurou 200 placas para sinalizar as ruas, distribuiu material escolar para 15 mil crianças, mas, após 20 anos de dedicação a uma das regiões mais pobres da cidade, decidiu se retirar.
– Já cuidei de muita gente. Chegou a hora de cuidar de mim – diz o pintor de parede Claudio Roberto da Costa, 56 anos, morador da Vila Safira, no bairro Mario Quintana.
Foi lá que ele fundou, em junho de 2000, o projeto Vó Chica – uma homenagem ao apelido de Maria Francisca Gomes Garcia, parteira voluntária da Safira que morreu aos 107 anos, em 1983.
De um ano para cá, depois de passar por uma cirurgia no coração, Claudio já vinha recebendo orientações para reduzir o ritmo das atividades. Segundo ele, além da própria saúde, a família também merecia mais cuidado. Porque o pintor atravessava dias – e às vezes noites – atendendo demandas da comunidade.
– Ontem mesmo, incendiou uma casa aqui perto e o pessoal me pediu ajuda para reconstruir. É uma comunidade grande, as pessoas pedem desde fraldas até vagas de emprego, e eu sempre fiz tudo o que pude. Não estou reclamando, só não consigo mais – explica ele.
O quintal de casa, onde há uma pequena biblioteca, além de um espaço para as crianças pintarem, não estará mais aberto ao público. E o reforço escolar para a gurizada, adaptado na garagem de Claudio, deve ser absorvido por escolas.
Mas o pintor diz que é impossível abandonar o ativismo: vai seguir distribuindo material escolar – ele montou uma rede de contatos que garante as doações –, fazendo palestras e se dedicando a projetos menores.
– Vou morrer fazendo isso, mas fechei um ciclo. Sou muito grato por tudo: o Vó Chica me levou longe. Passei de um humilde pintor para cidadão emérito de Porto Alegre (ele recebeu o título da Câmara de Vereadores em 2010). Acho que cumpri a missão.
Com Rossana Ruschel