Naquele casebre apertado e frágil, com o telhado já aceitando a entrada da chuva, Teresa Cristina Araújo nem reclamava da ausência de luz e água encanada: só queria um banheirinho nos fundos.
Começava ali uma mobilização para ajudá-la, mas o apoio foi bem mais longe. Estão erguendo uma casa inteira para ela – de alvenaria, não mais de madeira. Tudo à base de doações. Quem ergue de graça a nova casa, agora com sistema elétrico e rede hidráulica, são os vizinhos do bairro Parque Índio Jari, de Viamão.
– Eu estava desacreditada de tudo já. Mas parece que, às vezes, aparecem anjos que te fazem sonhar de novo – comemora Cristina, 38 anos, que dividia a única peça do casebre com o namorado, Rafael Rodrigues, 28 anos, com a filha dela, Ana Paula, 16, e com um bebê de quatro meses adotado pelo casal após a prisão da irmã de Rafael, mãe da criança.
Com o barraco demolido para a construção da nova casa, a família se hospeda na residência de André Ricardo Reis, 47 anos, que mora logo em frente. É o próprio André, pedreiro desde adolescente, quem comanda a obra de domingo a domingo – o filho, o irmão e o genro também trabalham para erguer as paredes.
– O engraçado é que a Cris e eu nos cumprimentávamos de longe. Mas, quando entendi o que ela passava, só pensava em ajudar como podia – conta ele.
Cris veio do Rio Grande do Norte em busca de emprego em 2007. Acabou demitida de um supermercado e, quando o então marido saiu de casa, viu-se impossibilitada de pagar o aluguel. Foi morar embaixo do Viaduto da Conceição, mas, sete anos depois, já namorando Rafael, mudou-se para o pequeno terreno que ele herdou da família em Viamão.
Em outubro, sua vontade de ter um banheiro chegou aos ouvidos de Claudio Roberto da Costa, 55 anos, um pintor de parede já conhecido por organizar campanhas solidárias. Ele divulgou a situação no Facebook, propôs a construção de uma casa e, dois dias depois, as primeiras doações já chegavam: tijolos, telhas, argamassa.
– Só pessoas comuns, nenhuma empresa. Mais de 30 já doaram. E eu peço só material, não recebo dinheiro – afirma Claudio, lembrando que, para doar, basta contatá-lo em facebook.com/claudio.projetovochica.
Ele estima que as obras já tenham atingido 60%. Passo a passo, tudo vai sendo registrado em sua página, que é "para prestar contas direitinho".
– Estou vendo uma casa ser levantada do nada – comenta Cris. – As pessoas vêm aqui trazer pedras e tijolos por pura solidariedade. Não tem como descrever o que estão fazendo pela minha família.