Quando o motorista do Celta prefixo 4.284 nasceu, o Grêmio recém havia vencido o seu segundo título gaúcho, contra o Guarani do Alegrete. O Brasil recém celebrara a histórica Semana de Arte Moderna, em São Paulo. Do outro lado do mundo, a União Soviética ainda demoraria mais de um mês para ser formada.
Nesta terça-feira (27), com uma festa que levou familiares e dezenas de colegas ao ponto da Estação Rodoviária, o taxista mais velho de Porto Alegre, Juvenal Cunha da Silveira, festejou 96 anos.
Além da idade e da saúde invejável, Juvenal exibe um currículo tão incrível que recebeu, nesta terça, um diploma dos agentes da EPTC Airton Martins e Cátia Simone Lemes: são 58 anos ao volante sem uma única multa ou reclamações registrada em sua ficha funcional. Ele minimiza o feito.
— A receita é simples. É só frear no sinal amarelo e nunca parar em fila dupla ou a menos de cinco metros das esquinas. Se fizer isso e não correr, não tem como tomar multa. Ah, e não usar o celular — ensina.
Natural de Nova Santa Rita, Juvenal iniciou no táxi na Capital em 1960, dirigindo um Pontiac, com ponto na Avenida Presidente Roosevelt, na Zona Norte. Pai de duas filhas e avô de cinco netos, Juvenal enviuvou há oito anos. Desde então, resolveu colocar a cabeça mais ainda no trabalho. Dá ponto das 7h até as 15h30min, 16h, dependendo do movimento da Estação Rodoviária, onde ele dirige desde 1982 e se tornou "mais conhecido do que cachaça". À época, já estava aposentado há 10 anos.
A receita é simples. É só frear no sinal amarelo e nunca parar em fila dupla ou a menos de cinco metros das esquinas. Se fizer isso e não correr, não tem como tomar multa. Ah, e não usar o celular
JUVENAL CUNHA DA SILVEIRA
taxista, 96 anos
— Mas a aposentadoria é miserável, né? Tem que ir atrás do dinheiro, senão a gente só come carne no dia que recebe — comenta.
Outra receita para completar 58 anos de profissão é desviar não apenas dos buracos, mas das polêmicas. Se um cliente puxa conversa sobre futebol, ele diz que "não tem acompanhado". Política, então, nem pensar. Jamais liga o rádio, não é de conversa e, nesse caso, só fala amenidades.
— Não me atrito com ninguém. Se algum outro motorista me xingar, por qualquer bobagem, não me estresso. Simplesmente me faço de surdo — declara Juvenal.
Com a audição, a visão e a revisão do Celtinha em dia, Juvenal não tem nenhuma intenção de parar.
— Neste passo, espero ir bem longe ainda. Vou passar dos cem! — brinca, com uma ressalva: — Só não no velocímetro.