Mergulhada em uma depressão profunda, a dona de casa Cida da Silva Santos, 71 anos, decidiu sair às ruas distribuindo abraços. Fez isso pela primeira vez há quatro anos e, ao sentir uma inexplicável injeção de ânimo, nunca mais parou.
– Me perguntam se não acho esquisito abraçar estranhos. Mas sou a prova viva de que um abraço, quando é honesto, cura mais do que remédio – ela sorri.
Apaixonada por abraçar os pais e os sete irmãos desde pequena, Cida experimentou a solidão quando começou a perder a família. Viu quatro irmãos morrerem e enviuvou duas vezes. Em 2008, a morte da mãe terminou de empurrá-la para um doloroso vazio. Nem os três filhos, nem os três netos conseguiam fazê-la sair de casa.
– Eu queria melhorar, mas não conseguia. Até que um dia, em uma das minhas orações diárias, ouvi uma voz me dizendo para sair e abraçar as pessoas – relembra ela.
Foi ao Parcão de Cachoeirinha, cidade onde mora, com uma plaquinha presa em um cabo de vassoura: “Quer um abraço? É grátis!”. E recebeu tantos, mas tantos, que a filha caçula, Fernanda, 36 anos, que a acompanhava, começou a chorar:
– De repente, quando vi, ela estava extrovertida e alegre. Os abraços mudaram a minha mãe.
Cida, então, mandou fazer uma camiseta, depois um boné, e até criou uma página no Facebook: “Cida do Abraço Grátis”. Em Porto Alegre, dá as caras com frequência em parques, praças e eventos como a Feira do Livro e o Acampamento Farroupilha.
Nesta semana, a coluna a encontrou no Centro Histórico, onde deu 15 longos abraços em 20 minutos. A estudante Emilly Oliveira, 18 anos, chegou a passar reto por Cida, mas deu meia volta para ganhar o afago gratuito.
– A gente nem percebe como falta tempo para dar e receber atenção. Esse abraço me fez tão bem – comentou Emilly.
Agora imagine sentir esse “bem” dezenas de vezes ao dia. É o que explica o sorriso incessante de Cida.