Enquanto um guindaste removia nesta quarta-feira (2) os vagões do aeromóvel, no canteiro central da Avenida Loureiro da Silva, vinha abaixo também uma Porto Alegre que um dia se ufanou daquilo tudo.
O arrojado veículo instalado em 1982 atiçava o nosso orgulho bairrista: parecia estar ali uma solução 100% gaúcha para os problemas de transporte do planeta inteiro. Não era bem assim. Quase 40 anos depois, o antigo símbolo de inovação desceu dos trilhos suspensos de forma melancólica: abandonado, vandalizado e depenado.
– Mas a obra provou que o sistema funciona. Esse carro pesa a metade de um ônibus e tem capacidade para 300 pessoas. É incrível – elogiava o inventor do aeromóvel, o pelotense Oskar Coester, 81 anos, que acompanhou em uma cadeira de rodas a despedida de sua criatura.
De fato, a experiência em um parque de Jacarta, na Indonésia, e a pequena linha do Aeroporto Salgado Filho, na capital gaúcha, confirmam que o veículo funciona bem. O problema é que, até hoje, não se encontrou a melhor forma de inseri-lo no ambiente urbano – em meio à cidade, às avenidas, aos carros e à agitação.
Embora seja rápido, seguro e confortável, com tecnologia limpa e custo baixo, parece difícil imaginar aquela estrutura espaçosa de concreto, fundamental para a sustentação dos trilhos, se adaptando a qualquer espaço público. Esse é o desafio do aeromóvel.
A proposta apresentada pela empresa à prefeitura, conforme a coluna adiantou, é prolongar os trilhos do Gasômetro por toda a beira do Guaíba. Com as novas obras da orla, um transporte turístico seria espetacular. Mas como integrá-lo à paisagem? Como evitar que aquilo pareça um viaduto interminável? Talvez seja possível, claro, mas Oskar Coester, na manhã desta quarta (2), preferia a precaução:
– Se não sair agora, paciência. É o sistema de transporte do futuro, mas ainda vai levar tempo.