No aniversário de dois anos de GaúchaZH, colunistas escrevem especialmente para você, assinante, trazendo dicas preciosas.
Pensei em citar os espelhos d'água da Redenção – agora, que é primavera, os ipês floridos se refletem ali, as pétalas cor-de-rosa forram o piso do entorno, e esse cenário só existe em Porto Alegre. É um negócio lindo. Mas, depois, me pareceu melhor falar de coisas concretas, não de imagens que duram um mês ou dois.
Pediram-me este texto para celebrar os dois anos de GaúchaZH. Por isso, os colunistas estão falando de "duas coisas que..." – no meu caso, a ideia é discorrer sobre duas coisas que só existem aqui, duas coisas que ninguém jamais vai encontrar em outro canto do planeta. A primeira, não tenho dúvida: o Viaduto Otávio Rocha.
Uma montanha explodida a dinamite, nos anos 1920, deu lugar à mais arrojada obra viária da história de Porto Alegre. Aliás, sugiro que hoje mesmo, na saída do trabalho, você convide duas ou três pessoas do seu agrado para celebrar, nos altos do viaduto, uma experiência que, embora comezinha, não deve nada para o que buscamos em qualquer cidade turística.
Funciona assim: você pede uma mesinha na rua, em um dos simpáticos bares que se esparramam nas escadarias, depois acompanha o sol se pondo e dando lugar à luz suave das luminárias antigas, então aprecia a imponência dos parapeitos, das colunas e das arcadas em estilo eclético, percebe o entusiasmo dos frequentadores que aproveitam a cidade ao ar livre e, por fim, se dá conta de que aquilo só existe aqui. É lindo, é único e é nosso.
Outra singularidade da Capital são os chamados portais da Tristeza. Tudo bem, é provável que mais cidades portuárias tenham a mesma geografia: quando uma rua acaba no rio, surge um terreno público à beira d'água. Só que aqui, para citar uma iniciativa recente e privada – como contrapeso ao veterano e público viaduto da Borges –, empresários que adotaram essas áreas vêm transformando o jeito como a Zona Sul se relaciona com a orla.
O charmoso Portal Dona Irena, no fim da Armando Barbedo, atrai dezenas de frequentadores todo dia, lota nos finais de semana, serve de palco para eventos culturais e se estabelece como um dos mais vibrantes pontos de encontro de Porto Alegre. Não se trata de um espaço amplo, como a orla do Gasômetro, mas de um pequeno refúgio entre a natureza e a agitação urbana.
Porto Alegre tem peculiaridades, tem belezas e tem gente se empenhando em fazê-la melhor. É ótimo enxergar isso até no espelho d'água da Redenção.