Para nós, humanos, talvez o disfarce lembre um filme de terror, mas, para as corujas da clínica Toca dos Bichos, a máscara é uma beleza. Faz algumas semanas que os voluntários têm usado o falso rosto para alimentar e tratar as aves – a ideia é evitar que as corujas criem vínculos muito fortes com seres humanos, o que dificulta o retorno delas à natureza.
— O filhote entende que somos a mãe dele — diz Luísa Nardi, estudante de Veterinária que, após ler uma série de artigos científicos, confeccionou a máscara com papel machê, tinta branca, cola e massa de modelar.
Diretora e fundadora da clínica, Gleide Marsicano explica o que ocorre na prática. Após um tempo convivendo com pessoas, as corujinhas seguem buscando o contato com humanos quando retornam ao seu habitat – acham, por exemplo, que eles é que vão alimentá-las. E as pessoas acabam se assustando com a aproximação das aves.
— Podem machucá-las, inclusive. O ideal é que esses animais tenham medo de gente — avalia Gleide.
A maioria das corujas – assim como gambás, ouriços, furões e gaviões – costuma chegar ainda filhote à Toca dos Bichos, que desde 1987 trata gratuitamente animais silvestres na zona norte de Porto Alegre. Pássaros que se machucam ao caírem do ninho, ou mamíferos agredidos na rua, são encaminhados para lá inclusive pelos órgãos ambientais.
Luísa, a estudante que fez a máscara, já havia estagiado na clínica: gostou tanto de lá que, durante as férias de inverno, passou duas semanas trabalhando na peça, depois embrulhou-a para presente e a entregou na Toca. Os voluntários adoraram o regalo – mas a estratégia só funciona com aves de rapina, como corujas, gaviões e urubus. Mamíferos, em geral, entendem logo que se trata de uma fantasia.
Com Rossana Ruschel