Tenho um pé no ceticismo e outro na desconfiança, mas, por absoluta falta de conhecimento (e um pouco também de coragem, vá lá), prefiro não chancelar integralmente a tese da microbiologista Natália Pasternak sobre as pseudociências apontadas no livro Que Bobagem!, que ela assina junto com o marido Carlos Orsi. Como sabem todos os que já ouviram falar na obra ou conhecem as posições do Instituto Questão de Ciência, que ela dirige, foram colocadas no mesmo balaio dos “absurdos que não merecem ser levados a sério” a psicanálise, a homeopatia, a acupuntura e a astrologia, entre outras matérias de grande aceitação popular.
Profissionais, pacientes e simpatizantes dessas áreas reagiram prontamente, alguns até exageradamente, em defesa de suas práticas. Compreensível. Mas nenhuma reação, por mais legítima que seja, deve inviabilizar um debate oportuno, que ganha mais relevância no momento em que o país ainda chora perdas agravadas pelo negacionismo na catástrofe da pandemia. Sou devoto de São Tomé: entre ver para crer e acreditar para não ter que pensar, fico inequivocamente com a primeira opção. Só não me agrada chamar de bobagem coisas que significam muito para outras pessoas.
Horóscopo, por exemplo. Nunca dei a mínima importância para o que os astros possam pensar de mim, mas respeito quem acha que as posições dos corpos celestes no momento do nascimento de um ser humano podem ser determinantes para a formação de sua personalidade. Tenho amigos e amigas que acreditam seriamente nisso – e são pessoas lúcidas, inteligentes e queridas.
Mesmo sendo um descrente nessa área, confesso que fiquei um pouco decepcionado quando soube que os robôs da inteligência artificial (produtos da ciência, portanto) é que estão fazendo as previsões astrológicas publicadas nos jornais. Não é uma ironia desconcertante colocar a tecnologia a serviço da crença?
Ao ler a notícia, fui correndo consultar o que a maquininha intrometida estava dizendo do meu signo naquele dia – e a coincidência em relação ao tema que estava preparando para esta crônica me deixou ainda mais impressionado. Olhem só o que estava escrito nos algoritmos para nós, irmãos virginianos: “O que fazer se as pessoas não avaliam direito a importância de certas experiências que, para sua alma, são de valor fundamental? Melhor não tentar convencer ninguém de nada”. Talvez seja melhor mesmo.