Acabo de ver o filme argentino Granizo, que conta a história divertida e irônica de um desses homens do tempo de televisão, misturando vaidade, cancelamento, relações familiares, ciência, crendice e um temporal apocalíptico sobre Buenos Aires. As aventuras e desventuras do simpático meteorologista que se torna célebre por jamais errar prognósticos, até o dia em que leva uma rasteira do clima, me fizeram lembrar daquela advertência mil vezes repetida por Maju Coutinho na sua época de musa do sol e da chuva:
– É previsão, não é precisão!
Pesquisa eleitoral também funciona assim. Tem ciência por trás, evidentemente. Da mesma maneira como os previsores climáticos se baseiam em informes coletados por satélites e estações meteorológicas para dizer se a gente deve sair de guarda-chuva no dia seguinte, também os institutos de pesquisa se valem de sondagens técnicas com grupos representativos da população votante. Mas operam com um elemento totalmente aleatório: a intenção humana.
Como disse Confúcio, somente os extremamente sábios e os extremamente estúpidos é que não mudam. Então, parodiando Verdi, a maior parte da nossa espécie é móbile qual pluma ao vento, muda de acento e de pensamento. Daí vem também aquela advertência que os veículos de comunicação repetem à exaustão em períodos eleitorais:
– Pesquisa é um retrato do momento.
Adianta? Parte expressiva do público desconfia das intenções de quem divulga os levantamentos, principalmente quando os resultados contrariam suas expectativas. Em tempos de polarização, então, tudo é visto como manipulação. E não faltam registros históricos para comprovar as teorias da conspiração: no ano tal, o candidato xis nem aparecia nas pesquisas e ganhou a eleição; em outra ocasião, o favorito sequer passou para o segundo turno... E por aí vão as narrativas que justificam qualquer tese. Raros são os eleitores que aceitam tais discrepâncias como resultantes das mudanças de intenção do próprio eleitorado.
No Brasil, como disse um ilustre ex-ministro, até o passado é imprevisível. Então, em vez de repeti-lo, quem sabe a gente não encontra outras alternativas para que a próxima eleição seja menos tempestuosa? Não é uma previsão – nem precisão. É só um desejo.
Por favor, sem pedras. Nem de granizo.