Quantos livros você leu nesta quarentena ampliada e interminável?
Se você respondeu cinco, empatamos. Se você respondeu mais do que isso, considere-se alvo de minha amistosa inveja. Se você respondeu “livro, o que é isso?”, podemos encerrar a conversa por aqui mesmo e cada um segue para o seu lado. Mas se você respondeu “nenhum, por falta de tempo”, talvez valha a pena continuarmos conversando.
Sei que o home office enganou muita gente que imaginava ganhar tempo ao eliminar o deslocamento para o trabalho, fugindo do trânsito e daquela passadinha básica no supermercado ou no bar. Para alguns de nós, porém, o lar doce lar revelou-se uma montanha de Sísifo, com louça para lavar, comida para fazer, lixo para recolher, ajuda no tema dos filhos, videoconferência a qualquer hora, zap zap, feice, compras, telentrega, ufa!.... Antes uma pedra para empurrar lomba acima.
Ainda assim, falta de tempo para ler continua sendo uma desculpa pra lá de esfarrapada. Faça o teste da TAG e veja por si mesmo. A TAG é o clube de assinatura de livros que bolou uma interessante experiência para mostrar quantos minutos você precisa ler por dia para terminar o seu livro em um mês. Eu fiz: completei as 350 palavras em 108 segundos. Pegando como exemplo minha última leitura, História do Cerco de Lisboa, de José Saramago, que tem 319 páginas, eu precisaria manter um ritmo de apenas 19 minutos por dia para chegar ao final.
Quem não pode dedicar 20 minutos de seu dia para uma boa leitura? Nos quase sete meses de pandemia, daria para ler sete Saramagos como esse que recém terminei. Falta de tempo, decididamente, não parece ser uma boa desculpa. Mas, pensando bem, talvez seja esse mesmo o motivo da perda do hábito de leitura por 4,6 milhões de brasileiros nos últimos quatro anos, conforme a recém-divulgada pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Faltou-lhes tempo – e vontade, principalmente – para desgrudar os olhos e a atenção das redes sociais.
Na internet também tem livros, sei disso. Só que a leitura de textos mais extensos é mais difícil, pois a cada segundo a pedra da atenção rola montanha abaixo.