Antes fosse apenas um castigo dos deuses, como no mito de Prometeu ou na lenda indígena do Japu, o pássaro de bico amarelo. De acordo com a literatura, o titã grego e a ave brasileira roubaram o fogo divino. Um enganou Zeus e, como se sabe, acabou acorrentado a uma rocha com uma águia comendo seu fígado, que se regenerava todas as noites. Já o pássaro azul, que na verdade era um valente guerreiro encantado para enfrentar o raio no céu de Tupã e trazer o fogo no seu bico, também foi bem e mal sucedido na sua empreitada.
A lenda brasileira é menos trágica, mas igualmente envolve crime e castigo. Conta que, quando a ave voltou e o guerreiro foi desencantado pelo pajé, estava com o rosto deformado pela queimadura divina. Então, envergonhado de sua própria aparência, pediu para voltar a ser pássaro e assim permanece até hoje nas florestas do país.
Prometeu – esqueci de mencionar esta parte da narrativa mitológica – também teria sido o responsável pela criação dos humanos, mais propriamente dos homens. Brincando com a argila, ele fez pequenos bonecos e conseguiu dar-lhes vida. Dizem os mitólogos que era o mais inteligente dos titãs.
Lendas à parte, a verdade é que os homens controlaram o fogo e, com ele, construíram cidades, máquinas, armas e computadores para evidenciar sua superioridade e seu domínio sobre todas as outras criaturas da Terra. Só que o fogo – este filho poderoso da natureza que sequer se deixa tocar – de vez em quando se rebela e sai por aí a destruir matas, campos, cidades e vidas, como está acontecendo agora no Pantanal mato-grossense, em parte da Amazônia e até mesmo em extensas regiões norte-americanas.
Se fosse somente a vontade dos deuses, sem a interferência desastrada e provavelmente criminosa da mão humana, talvez não estivéssemos sentindo tanta dor e remorso diante das imagens terríveis de animais transformados em estátuas de cinza.