A água da chuva de coloração escura que caiu na cidade de São Francisco de Assis, no centro do Estado, assustou os moradores neste domingo (13). A situação pode estar ligada às queimadas que assolam a Amazônia e o Pantanal.
Renata Libonati, coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a fuligem emitida para a atmosfera, pela queima dos biomas, entrou em contato com a umidade que estava no território gaúcho e provocou esse fenômeno:
— A fuligem atua como núcleo de condensação para as nuvens de chuva. Uma vez que entram em contato, esse material particulado que está na atmosfera é carregado para a superfície. Por isso, essa água escura que caiu do céu pode ter relação, sim, com as queimadas.
Entretanto, não há como descartar outras origens para a água escura, o que exigiria mais tempo de estudo, afirma Marcelo Felix Alonso, professor da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
— O material precisaria passar por uma análise em laboratório para verificar se o coletado na água da chuva trata-se realmente de fuligem — pontua.
A aposentada Ivete de David, 61 anos, residente de São Francisco de Assis, afirma que desde sexta-feira (11) ela registra a situação.
— Na quinta-feira (10), havia muita fumaça, o céu estava esbranquiçado. De sexta para sábado (12), a chuva começou a cair com essa coloração escura. A mesma situação se repetiu de sábado para domingo (13) e também nesta madrugada de segunda-feira (14).
RS permanece sendo o Estado mais afetado pela fumaça
E o Rio Grande do Sul continua sendo o Estado brasileiro mais afetado pelo corredor de fumaça das queimadas que assolam o Brasil. Pelo que apontam os prognósticos, essa condição, de céu esbranquiçado e entardecer alaranjado, deve permanecer na região até o final do dia desta segunda-feira.
Na terça-feira (15), a fumaça será mais forte em Santa Catarina em razão de uma mudança no sentido dos ventos. Eles passarão a partir do Mato Grosso do Sul e a escoar em território catarinense. Contudo, na quarta-feira (16), haverá outra guinada na orientação dos ventos. E o Rio Grande do Sul voltará a ser afetado pela fumaça, mas de forma menos intensa, explica Wallace Menezes, professor do departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ):
— Apesar de o escoamento do vento voltar para o território gaúcho, teremos a formação de nebulosidade e queda de chuva na região. Por isso, o registro de grande acúmulo de fumaça, como foi na sexta-feira (11), não será visto, porque teremos chuva e ela vai lavar o céu. Mas vale alertar que poderemos ter registro de chuva escura, porque os ventos sul-mato-grossenses continuam soprando para o Estado.
Em relação aos focos de calor, que haviam sido registrados no Rio Grande do Sul na sexta-feira – e que podem piorar a qualidade do ar gaúcho –, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) afirmou que agora há somente um ponto na serra gaúcha.