A fumaça oriunda das queimadas, principalmente, do Pantanal está atuando com maior força no Rio Grande do Sul, segundo Renata Libonati, coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na quinta-feira (10), sinais da chegada da fuligem da queima de bioma já haviam sido registrados na serra gaúcha.
— Os satélites mostram que ela (fumaça) está bem concentrada no Estado. Esta é a localidade mais afetada atualmente, e a tendência é que ela permaneça na região durante o sábado (12). A nuvem de fumaça está bem espessa e cobre bem o mapa gaúcho porque há focos de incêndio na Argentina e no Uruguai também. A combustão vinda desses países vizinhos se soma à brasileira e deixa o cenário mais carregado no Rio Grande do Sul — aponta Renata.
Wallace Menezes, professor do departamento de Meteorologia da UFRJ, afirma que, apesar da situação atual, a tendência é de melhora da qualidade do ar nos próximos dias devido à chegada de uma frente fria, que provocará chuva, e também porque haverá mudança na orientação dos ventos:
— No sábado chega uma frente fria que vai levar chuva para diversas partes do Estado. E toda essa instabilidade ajuda a tirar do ar essa fuligem, como se fosse uma faxina. Além disso, os ventos oriundos de Mato Grosso do Sul deixam de convergir para o Rio Grande do Sul e vão desembocar em Santa Catarina a partir do domingo (13). Esse é outro fator relevante para a significativa melhora do ar.
Estado também apresenta focos de calor
O Rio Grande do Sul registrava dois pontos de calor no município de São Borja, na Fronteira Oeste, segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema). As informações fornecidas pela pasta têm como base imagens disponibilizadas por um satélite da Nasa, a agência espacial norte-americana. Contudo, não foram informadas as extensões destes dois pontos de calor.
No final da tarde, a Sema atualizou os dados. Havia pontos de calor espaçados no RS, sendo seis no Oeste/Sul, um no centro do Estado, um na Fronteira Oeste e 13 na Serra.
Já a Somar Meteorologia havia constatado seis pontos mais concentrados nas faixas Nordeste e da Fronteira Oeste. Em Porto Alegre, o pôr do sol alaranjado confirmou a presença de resíduos da queima da vegetação, conforme a Somar.
Uma terceira análise é a de Marcelo Felix Alonso, professor da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), cujos mapas apontavam quatro focos – dois na região da Fronteira Oeste e dois na Campanha. Os dados colhidos por ele têm como fonte o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O especialista ressalta que esse número é baixo porque o Estado passa por um momento de grande umidade e tem previsão de chuva para praticamente todo o território gaúcho nos próximos dias:
— Devemos permanecer nessa condição de grande umidade até a segunda quinzena de setembro. Mas vales destacar que esse número de focos de calor é o esperado para esta época do ano. A situação preocupante está mesmo no Pantanal.
O especialista explica que, historicamente, entre os meses de agosto e outubro, o Centro-Oeste brasileiro vive um período de seca. Entretanto, essa condição climática está mais aguda este ano, o que resultou em um aumento – acima do esperado – do número de casos de queimadas. Alonso destaca ainda que todo o poluente emitido pela combustão do bioma é transportado em escala continental, chegando ao território gaúcho em função dos ventos que saem da região das queimadas.