O resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial observado nos últimos meses confirmou uma tendência que já estava sendo apontada por grandes centros de pesquisa: daqui para a frente, estaremos sob efeito do fenômeno La Niña. A National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), órgão norte-americano que trabalha com previsões climáticas e dos oceanos, emitiu, na quinta-feira (10), um comunicado sobre os prognósticos. Mas, afinal, o que isso quer dizer?
Apesar de ser um fenômeno que acontece no Pacífico, ele tem impacto em diversas regiões do planeta. Isso porque provoca uma mudança na dinâmica dos ventos, influenciando no transporte de umidade, explica a meteorologista Eliana Klering, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg).
— Basicamente, essa mudança na dinâmica dos ventos interfere na velocidade das frentes frias, que passam mais rápido. Para nós, no Rio Grande do Sul, normalmente, ocorre a diminuição no volume de chuvas — diz.
O impacto maior deve ser sentido na primavera, quando ainda há, geralmente, mais frentes frias passando pelo Estado. Com a aceleração dessa passagem, a seca deve ser percebida já no fim de setembro.
— A tendência é de termos uma primavera, um outubro, um novembro e um verão com chuvas abaixo da média — acrescenta o meteorologista Solismar Damé Prestes, coordenador no 8° Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Além de passarem em maior velocidade por aqui, as frentes avançam mais, conseguindo atingir, inclusive, o nordeste brasileiro, levando chuva à região.
Embora o fenômeno não registre, normalmente, aumento de temperatura, uma sequência maior de dias sem chuva pode fazer com que os termômetros se elevem, diz Prestes. Somado a isso, destaca Eliana, centros climatológicos do mundo inteiro têm feito alertas em relação ao aumento das temperaturas em decorrência do aquecimento global.
O que é La Niña
Para ocorrer La Niña, as águas do Pacífico precisam ficar, por um período determinado de tempo, com temperatura 0,5°C abaixo da média. A medição, diz Simone Ferraz, coordenadora do grupo de Pesquisas em Clima da Universidade Federal de Santa Marina (UFSM), é feita na superfície da água:
— Mede-se a temperatura da parte de cima do mar: o quanto aumenta ou diminui dentro de uma média, e se calcula.
Por se tratar de uma porção muito volumosa de água, as alterações de temperatura são lentas. Dessa forma, os modelos conseguem indicar um prognóstico para mais de um mês.
— Como é uma grande massa de água, toda a região do Pacífico, da costa do Peru até a Austrália, demora muito tempo pera esfriar e para aquecer — justifica Eliana.