Quem não viu ainda pode ver. Aliás, quem não viu tem que ver. Falo da homenagem da PUCRS ao ator Lima Duarte, agraciado com o Mérito Cultural da universidade gaúcha no último dia 19 de agosto, numa cerimônia/entrevista conduzida pelo diretor do Instituto Cultural da instituição, Ricardo Barberena (veja em gzh.rs/lima).
Lima Duarte deu um verdadeiro show de simpatia, humildade, cultura, história, comunicação, consciência social e — de lambuja — uma aula magnífica sobre a arte de representar. A entrevista foi ilustrada por um vídeo em que ele interpreta um texto do dramaturgo Chico de Assis, já falecido, exatamente sobre o ator e seu personagem.
É emoção pura.
— Isso que alguns chamam de arte eu prefiro artimanha — diz o ator sobre seu ofício.
Arte e manha. Lima Duarte, aos 90 anos, com arte até no nome e manha em cada entonação de palavra, em cada gesto dramático, em cada relâmpago de olhar, é o ator na sua mais refinada essência. Assim, interpretando a própria vida, ele falou durante quase duas horas sobre personagens fictícios e reais da história da televisão, confundindo-se com eles na sua exitosa passagem diante das câmeras e pelos palcos do mundo.
— Ah, que caminho de aventura, seres tu mesmo e outra criatura — diz o texto feito especialmente para ele por Chico de Assis.
Outras criaturas inesquecíveis: Zeca Diabo, Sinhozinho Malta, Sassá Mutema, Sargento Getúlio, Padre Antônio Vieira, entre tantos incorporados pelo velho ator, desfilam pela entrevista ao serem acordados pelo entrevistador:
— Tô certo ou tô errado? — brinca o homenageado, imitando a si mesmo e balançando o pulso sem a pulseira barulhenta do relógio utilizado na novela. Mais uma manha que virou bordão e marca registrada de um personagem que conquistou a simpatia do público.
Quando um personagem morre ou a novela termina, o ator fica desamparado, conta Lima no seu monólogo:
— Que monotonia ser eu mesmo, noite e dia!
Lima Duarte, como lembrou o reitor Evilázio Teixeira na saudação final ao homenageado, é ele próprio um personagem extraordinário criado pelo mineiro Ariclenes Venâncio Martins, seu nome original, caboclo que saiu de um lugarejo chamado Desemboque, viajou para São Paulo num caminhão que transportava mangas e conquistou o Brasil.
Com arte, manha e muito talento.