Dois pacientes intoxicados após consumirem um bolo na antevéspera de Natal seguem internados no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, mas apresentam melhora no estado de saúde. Uma das pessoas é a que fez o doce, Zeli Terezinha Silva dos Anjos, 61 anos. O outro é um sobrinho-neto dela, de 10 anos. Ambos estão na UTI, mas o menino até conversou com familiares. Três familiares deles (duas irmãs de Zeli e uma sobrinha), porém, morreram intoxicadas. A Polícia Civil investiga o caso para verificar qual substância pode ter causado as mortes.
A intoxicação coletiva aconteceu segunda-feira (23), durante um encontro de família. O bolo foi preparado por duas irmãs que residem em Arroio do Sal, Zeli Silva e Maida Berenice Flores da Silva. Elas levaram a iguaria para Torres, onde fizeram café da tarde e encontraram outra irmã, Neuza Denise Silva dos Anjos, assim como o marido, uma filha e um neto dela.
A reportagem acompanhou na manhã desta quarta-feira (25) o velório de duas das três vítimas da intoxicação, realizado no Cemitério São Vicente, em Canoas. São elas Maida Berenice Flores da Silva, 58 anos, e Tatiana dos Anjos, 43 anos. A terceira pessoa que morreu, Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, é mãe de Tatiana e irmã de Maida. O corpo dela, assim que for liberado da autópsia, também deve ser sepultado no mesmo cemitério.
O ambiente no velório era de inconformidade e espanto. Uma das pessoas que estava presente no encontro em Torres descreve que, poucas horas depois das mulheres e do menino ingerirem o doce, todos começaram a passar mal, com diarreia e vômitos. Foram levados ao hospital daquele município e internados na UTI, onde as três mulheres faleceram.
As três irmãs viveram a vida em Canoas. O apartamento em Torres é usado para veraneio por Neuza (que faleceu) e o marido dela, João, que não chegou a comer o bolo. Ela é professora aposentada e tinha uma loja de artigos para piscinas na Faculdade La Salle, em Canoas. A filha do casal, Tatiana, tinha o filho, que está internado. O marido dela soube da morte da esposa quando estava em viagem.
Já as irmãs de Neuza, Zeli e Maida, moram em Arroio do Sal desde maio, quando saíram de Canoas por terem enfrentado problemas com a enchente. Tinham o costume de preparar doces e outras iguarias.
Um dos familiares diz que a suspeita dos médicos do hospital é de que uma grave contaminação bacteriana tenha sido causada pelo uso de algum ingrediente no bolo. Uma das suspeitas é ovo, por exemplo.
A crença generalizada entre os ouvidos pela reportagem durante o velório é de que a intoxicação foi casual. Isso porque não há notícia de desavenças internas na família.
A Polícia Civil ainda aguarda o resultado das perícias para determinar a causa das mortes. Embora a principal hipótese seja intoxicação alimentar, a possibilidade de envenenamento não foi descartada.
É que o marido de Zeli, mulher que teria feito o bolo, morreu por intoxicação alimentar em setembro. Por cautela, agora a Polícia Civil pretende pedir a exumação do corpo dele. A intenção é verificar se a morte dele foi causada por alguma substância que também possa estar presente no bolo que causou a intoxicação coletiva das cinco pessoas nessa antevéspera de Natal.
Policiais estiveram na casa de Zeli, em Arroio do Sal, durante a terça-feira.
— Havia vários produtos vencidos, inclusive a farinha que ela utilizou — diz o delegado Marcos Vinícius Veloso, da Polícia Civil, que investiga o caso. Ele também diz ter encontrado uma maionese industrializada que estaria vencida há um ano.
Alguns dos parentes de Zeli teriam comentado que a sobremesa estava com gosto apimentado, diferente do sabor usual de bolos, o que leva o delegado a desconfiar que esse doce tenha sido o causador da intoxicação. A hipótese de ser algo proposital é pequena, no entender dele, mas não está afastada. Os resultados das perícias solicitadas ainda não chegaram, conclui Veloso.