A reportagem mais impressionante que já li foi feita pelo jornalista norte-americano John Hersey sobre os sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima. Para escrever esse livro essencial, o repórter da revista The New Yorker entrou na máquina do tempo, recuou 40 anos e reconstituiu o apocalipse ocorrido na cidade japonesa, na linguagem direta e contundente do jornalismo. Guardadas as proporções, é o que o paranaense Laurentino Gomes vem fazendo com a História do Brasil.
Depois da trilogia 1808, 1822 e 1889, em que reconstitui episódios marcantes da vida nacional, respectivamente a chegada da família real portuguesa, a Independência e a Proclamação da República, o jornalista-escritor lança agora Escravidão –Volume 1, o primeiro dos três livros em que abordará o tema – na sua visão – mais importante da história do nosso país. Quem acompanhou sua entrevista na Feira do Livro de Porto Alegre, no último domingo, saiu de lá convencido de que a participação luso-brasileira no holocausto africano será recontada em linguagem clara, honesta e transparente, ou seja, o mais próximo possível da verdade.
Laurentino reconhece que a abordagem jornalística é o diferencial de seu trabalho de resgate histórico. Ele escreve sobre os mesmos temas explorados pelos livros didáticos, mas com o respaldo da disciplina da verificação, da pesquisa cuidadosa, da leitura exaustiva de publicações anteriores, de visitas aos locais onde os fatos efetivamente ocorreram e do testemunho de pessoas que tenham alguma relação com os episódios narrados. Reportagem pura. O repórter é um contador de histórias que, pelos sortilégios de seu ofício, também protagoniza de alguma forma a história que pretende contar. Por isso recorro à imagem da máquina do tempo para descrever esses livros-reportagens que nos trazem novas luzes sobre o passado, iluminam o presente e sinalizam o futuro.
Antes de se transformar no escritor bem-sucedido e reconhecido de hoje, Laurentino Gomes também foi protagonista de uma passagem curiosa na nossa Feira do Livro, mais de uma década atrás. Ele conta que veio autografar um de seus primeiros livros e ficou praticamente sozinho no horário que lhe fora reservado, enquanto dezenas de leitores formavam fila para o autor que autografava ao lado. Foi tão marcante que o paranaense nunca esqueceu o título da obra do invejado colega: Como é Bom ser Gremista. Por coincidência, ele relembrou esse episódio minutos antes do Gre-Nal do último domingo.
Mas seu trabalho jornalístico e literário virou esse jogo, como ficou comprovado pela superlotação do auditório Barbosa Lessa, onde foi entrevistado pelo também talentoso repórter Carlos André Moreira, e pela quantidade de pessoas que esperavam na praça de autógrafos com o seu novo livro nas mãos.
Leitura imperdível, pois todos somos protagonistas desta reportagem em permanente construção chamada História do Brasil.