A previsão era de chuva, vento, quem sabe até granizo, mas o tempo colaborou e o primeiro
final de semana da 65ª Feira do Livro de Porto Alegre resistiu incólume à precipitação escassa que chegou apenas no início da noite de sábado. Com a ajuda da natureza, o público lotou os corredores da Praça da Alfândega, tornando a estreia alvissareira para os 106 expositores.
Ontem à tarde, o gestor comercial da Martins Livreiro, Augusto Filipini, comemorava a movimentação intensa dos primeiros dias. De acordo com Filippini, as vendas cresceram 5% em relação ao mesmo período da edição do ano passado.
– Ainda é bastante cedo para a gente fazer uma projeção para toda a feira, mas até aqui foi muito bom. As vendas estão maiores e tenho a expectativa de alcançar a marca de 400 exemplares por dia, aumentando o volume de vendas em 10% – salientou.
Colaboraram para o otimismo de Filippini a volúpia de jovens leitores como Roger Olchik. Aos 12 anos, Roger carregava na sacola três livros: O Tatuador de Auschwitz, de Heather Morris, Quem É Você, Alasca? e O Teorema Katherine, ambos de John Green. Acompanhado do irmão Natan, que escolheu Invenções e Invencionices, devidamente autografado pelo autor Dilan Camargo, Roger ainda desbravava os corredores atento às publicações.
– Já devo ter lido uns 15 livros este ano, alguns em dois dias. Não tenho um estilo preferido, gosto de livros que me deem mais vontade de ler. Foi assim com A Culpa É das Estrelas, por isso, agora, estou levando mais dois do mesmo autor – comentou Roger, sob o olhar orgulhoso da mãe, a professora universitária Maira Olchik.
Quem também andava de bolsa cheia era Anny Konrath. Professora de crianças em situação de vulnerabilidade social na periferia da Capital, ela era só sorrisos com os descontos de 50%
que conseguiu na aquisição de livros de zen-budismo e filosofia.
– Esses livros ajudam no meu trabalho com os meninos. É um conteúdo ao qual eles não têm acesso, e eu fico muito feliz de compartilhar esse conhecimento – disse Anny.
Perto dali, uma das principais atrações da feira lotava o auditório do no Centro Cultural CEEE Erico Verissmo. Autor dos best sellers 1808, 1822 e 1889, Laurentino Gomes conversou com o público sobre seu mais recente lançamento, Escravidão – Vol. 1.
O jornalista discorreu sobre as origens do movimento escravocrata, explicou como a elite nacional comandou rupturas sem mexer na estrutura social segregacionista, tal qual na Independência, em 1822, e que, assinada a Lei Áurea, abandonou a população negra à própria sorte.
Para Laurentino, é fundamental debater a forma como o Brasil se tornou o maior território escravista da América, os efeitos dessa privação de liberdade e como o preconceito enraizado na sociedade ainda hoje causa tensão social.
– O Brasil nunca vai dar certo enquanto não enfrentar o legado da escravidão – argumentou.