Eduardo Bueno confirmou sua faceta pop ao lotar o Teatro Carlos Urbim neste sábado (2), na 65ª Feira do Livro de Porto Alegre, em bate-papo sobre seu mais recente livro, intitulado Textos Contraculturais, Crônicas Anacrônicas & Outras Viagens.
É bem verdade que Peninha, como é conhecido o jornalista e escritor, tem seu público cativo, mas não é tarefa simples reunir tanta gente para discutir temas nem tão populares que constam na obra, como a geração beat, culturas marginais, new journalism, artigos de jornal — muitos deles publicados em Zero Hora —, entrevistas, reportagens e viagens excêntricas.
A mediação do bate-papo coube a Paula Teitelbaum, escritora, jornalista e esposa de Peninha.
— Estou aqui para tentar controlar o Eduardo — gracejou ela.
Mas a tarefa parecia impossível: Peninha, como de hábito, estava aceleradíssimo, falando como uma metralhadora, praguejando qualquer pessoa que aparecesse por ali com camiseta do Inter, tascando ácidas piadas sobre o presidente Jair Bolsonaro, trocando de assuntos bruscamente, se autoelogiando e debochando de si próprio também.
— É que não encontro nada melhor para ler — sentenciou Peninha, respondendo a uma provocação de Paula sobre o fato de ele gostar de ler várias vezes suas próprias publicações.
Grande parte da atração foi dedicada à análise sobre legado histórico e cultural da geração beat, pequeno grupo de jovens intelectuais norte-americanos embalados pelo jazz, experimentação de drogas, sexo e viagens malucas entre Nova Iorque e São Francisco. Os beats revolucionaram a literatura nos anos 1940, no pós Segunda Guerra. A obra e o estilo deles, liderados por ícones como Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs, acabaram por serem decisivas ao influenciar o surgimento do movimento hippie e do "new journalism", gênero que mesclou a narrativa fidedigna de fatos pelos repórteres com toques literários que tornavam a leitura mais agradável e poética.
Peninha afirmou que seu "maior orgulho" é ter escrito a introdução e feito a tradução de alguns dos livros da geração beat, entre eles On The Road - Pé na Estrada, de Kerouac, considerada a mais relevante obra do movimento.
Falando sobre escrita, o autor se mostrou preocupado com o cenário atual, atolado de fake news distribuídas por meios digitais. E lamentou que o new journalism tenha perdido espaço nas publicações contemporâneas, focadas em conteúdos mais objetivos e rápidos.
Ele ainda contou como resolveu imergir no mundo do Brasil Colônia, quando transformou temas áridos da história em textos palatáveis ao público, o que se tornou um fenômeno de vendas a partir de 1998.
— Fui atingido por um raio de vergonha quando me dei conta de que não sabia nada da história do Brasil, mas sabia tudo da história dos Estados Unidos — contou, destacando que, depois da constatação, mergulhou em leituras sobre os primórdios tupiniquins antes de reescrevê-los se valendo de técnicas do new journalism.
Se declarando idólatra, não deixou de citar fervorosamente o músico Bob Dylan. Histriônico e apaixonado, comentou com verve:
— Bob Dylan é um ladrão. Ele rouba frases de todo mundo e as transmuta. Eu faço isso de certa forma também, só que com menos sucesso.
Uma tarde divertida na Feira do Livro.