A semana começa nublada. Saio para a caminhada matinal e cruzo com uma moradora da vizinhança cujo nome ainda não registro no arquivo da memória, o que talvez seja recíproco. Ainda assim, ela me cumprimenta e lança uma dúvida na minha direção:
– Será que chove?
Meu primeiro impulso é ser sincero. Penso em responder:
– Não sei, só perguntando ao Cléo Kuhn.
Soaria como grosseria, evidentemente. Até mesmo porque, num raciocínio rápido, percebi que a pergunta não era exatamente dirigida a mim. Se fosse, seria algo assim:
– O senhor acha que vai chover hoje?
Nesse caso, eu poderia responder "acho que sim" ou "acho que não" e seguiria adiante, com a consciência tranquila. Mas a expressão "será que..." é sempre mais metafísica do que pragmática. Reflete dúvidas existenciais.
– Será que a vida tem sentido? Será que a felicidade existe? Será que alguém gosta de mim?
Além disso, o tempo verbal utilizado remete para o misterioso território do futuro. E falar sobre o imprevisível exige, no mínimo, alguma reflexão. Como eu não tinha tempo para filosofar naquele momento, resolvi ser assertivo como me ensinaram nos meus tempos de executivo:
– Chove! – respondi, fingindo convicção.
Ela não pareceu gostar da resposta. Olhou para o céu, que talvez fosse o verdadeiro destino da pergunta, e exclamou baixinho:
– Meu Deus...
O rápido e inocente diálogo tirou a paz da minha caminhada. Segui adiante pensando na imponderabilidade do clima e no zagueiro fulminado pelo raio que também acabou com o futebol de domingo no Rincão da Madalena, em Gravataí. Muito deprimente aquilo: uma jovem vida perdida, uma criança órfã, uma família enlutada. Bater uma bolinha na chuva é uma das grandes alegrias da vida. De repente, sem qualquer aviso, um estrondo e vários corpos estendidos no chão. Será que há algum sentido nisso?
Já joguei na chuva, já brinquei na chuva, já fiz ordem unida na chuva na época em que prestei o serviço militar obrigatório. Lembro-me bem que o sargento dizia:
– O soldado é superior ao tempo!
Bravata, evidentemente. Nem o soldado, nem o zagueiro, nem ninguém. Não somos mais do que "un grano de sal", como diz a canção de Jorge Drexler. Uma chispa e tudo se acaba.
Talvez esse seja o sentido: nossa fragilidade diante da natureza sugere que, em vez de lamentar o passado ou tentar prever o futuro, devamos viver plenamente o momento presente, conviver mais com a família, valorizar amizades e afetos, desfrutar das coisas que nos dão prazer, brincar com as crianças, amar, produzir, dançar, sonhar e respeitar os sentimentos e os pensamentos dos outros para que possamos compartilhar a paz de forma coletiva.
E ter dúvidas. Será que os assertivos entrarão no reino dos céus?
Naquele dia, não caiu uma só gota de água na minha vizinhança.