Já ouvi explicações religiosas e técnicas sobre o surpreendente badalar dos sinos da Catedral Metropolitana de Porto Alegre na madrugada de quinta-feira (9), mas ainda não estou convencido de que se tratou de um simples incidente motivado pela queda de energia. O toque de um sino, como sugere o termo latino signum, é sempre um sinal – no caso pode ter sido um alerta sobre curtos-circuitos para os responsáveis pelas reformas da igreja. Mas prefiro as versões criadas pela imaginação popular.
Claro que a primeira impressão dos porto-alegrenses despertados em hora imprópria pelas badaladas foi a de que um pontífice tinha morrido. Afinal, a Igreja Católica conta atualmente, de forma inédita, com dois papas vivos – o inspirado Francisco e o aposentado Bento 16. Mas ambos, pelo que se sabe, gozam de boa saúde. Outros, mais fantasiosos, atribuíram o toque misterioso ao Corcunda de Notre Dame, que teria migrado para cá até que sua catedral queimada seja restaurada. Mas parece que Quasímodo também não veio.
Por fim, teve gente mais politizada sugerindo que os sinos foram acionados pelo espírito de Leonel Brizola, provavelmente saído da estátua vizinha, com o propósito de anunciar uma nova Legalidade contra o governo miliciano/militar. Também não me parece viável isso.
Prefiro acreditar que o som da madrugada tenha sido iniciativa de algum outro fantasma mais brincalhão, como o poeta Mário Quintana, que deixou uma explicação lógica para o acontecido: "No ar atônito bimbalhavam sinos,/ Tangidos por uns anjos peregrinos/ Cujo dom é fazer ressurreições.../ Um ritmo divino? Oh! Simplesmente/ O palpitar de nossos corações".