Avante, Patriota! Acredite na Igualdade e na Solidariedade. Agora, Livres, Podemos Renovar a Nova Ordem Social, sejamos Republicanos, Democratas ou somente Progressistas. Força Brasil!
Não estranhem as maiúsculas, pacientes leitores, tolerantes leitoras, amados revisores. É uma brincadeira com os novos nomes dos partidos políticos nacionais, incluindo alguns que ainda estão em formação. As siglas estão sendo desfeitas e substituídas por palavras positivas e motivadoras, com o propósito indisfarçável de atrair a simpatia dos eleitores. Ou melhor: com o propósito de desfazer a ampla antipatia do público, resultante de anos de decepção com os eleitos por variadas agremiações.
Os políticos brasileiros, como já fizeram seus congêneres em outras partes do mundo, resolveram retirar o sofá da sala na tentativa de desfazer a má impressão causada por péssimas práticas pretéritas, muitas delas ainda presentes. Pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, que atende também pela sigla INCT, revelou que no ano passado oito em cada 10 brasileiros diziam não ter a mínima confiança nos partidos. O que fazem os dirigentes partidários diante da alarmante constatação? Mudam o nome de suas agremiações.
Claro que o pretexto é outro. Dizem que estão abandonando as letrinhas, principalmente o P identificador de partido, para adequar suas organizações à modernidade das redes sociais e aos novos comportamentos do eleitorado. Ora, não é preciso ser um cientista político para se concluir que a rejeição dos eleitores tem menos a ver com as denominações dos partidos e muito mais com as condutas de muitos de seus integrantes. E a que mais causa indignação ao eleitor é exatamente a tentativa de enganá-lo.
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Mas a troca de palavras pode mesmo alterar a percepção. Há casos em que o eufemismo opera prodígios, como na conhecida história do rei que sonhou que perdera todos os seus dentes. Conta-se que o monarca chamou um dos sábios do reino e pediu que interpretasse seu sonho:
– Grande desgraça, Majestade! – afirmou o sincericida. Significa que todos os seus familiares vão morrer.
Indignado, o rei mandou chicotear o sábio insolente. E chamou outro, versado na mesma arte da interpretação e, pelo teor do diagnóstico, formado também em Marketing Medieval ou curso semelhante, pois parece que naquela época ainda não haviam cortado os recursos das universidades.
– Que felicidade, meu rei! – exclamou o astucioso conselheiro. O sonho significa que o senhor vai viver mais do que todos os seus parentes.
A mesma sina, com outras palavras. Aliviado e feliz, o monarca encheu o homem de ouro.
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Voltando à nossa realidade, cabe a cada um de nós, cidadãos e eleitores, interpretar adequadamente a troca dos velhos acrônimos partidários pelas palavras edificantes que estão sendo propostas. Se formos suficientemente sábios, talvez consigamos que sob os novos rótulos também apareçam melhores produtos.