O silêncio da madrugada foi quebrado no centro de Porto Alegre nesta quinta-feira (9): o badalar do sino principal da Catedral Metropolitana. Programado para tocar diariamente ao meio-dia e às 18h15min — 10 e 15 minutos antes das missas —, a estrutura de 3,8 mil quilos soou às 3h30min, acordando moradores e deixando apreensivo quem está acostumado com a calmaria.
— Acordei no susto. Fiquei com medo que tivesse morrido algum pontífice — conta a advogada Bruna Alves, 41 anos, que reside na Rua Duque de Caxias.
A Catedral tem seus seis sinos virados para a Praça da Matriz. Desses, apenas um vibra diariamente, de forma automática.
Sezar Nogueira, porteiro do Edifício Catedral, que fica em frente à construção histórica, levantou uma suspeita: a queda de luz que ocorreu na região pouco antes. O fato foi reforçado por Gilson Nascimento, segurança do Palácio Piratini:
— Estava na ronda e o sino tocou logo após os agentes da CEEE ligarem o fusível no poste perto da Catedral.
Mais tarde, a assessoria de comunicação da Aquidiocese confirmou: "uma queda de energia nesta madrugada acabou acionando o sistema de automação dos sinos".
Datada de 1821, a Catedral Metropolitana realiza, desde 2018, uma reforma elétrica, de iluminação e do sistema de som com foco nos festejos de 200 anos. Responsável pela obra, Luís Carlos Lunks afirma que o sistema programador da torre não deveria ser acionado devido à queda e o retorno da energia:
— É um sistema chaveado. Testamos diversas vezes e nunca toca sozinho.
Na reforma, o antigo relógio cuco, que acionava os sinos, foi substituído por um timer eletrônico. Degradado, o antigo já havia apresentado atrasos. O técnico estranha o fato.
Uma escada estreita dá acesso ao andar superior ao sino principal, ao lado da Rua Espírito Santo. Com uma vista privilegiada do Centro Histórico, a estrutura de ferro divide espaço com outras duas, menores. A segurança eclesiástica garante que não há como entrar no local.
— Tem portaria e é tudo fechado — afirma Alceu Corrêa, porteiro da Catedral.
Após uma noite sem interrupções do sono, o servidor público Lúcio Marsiaj, 32 anos, passeava pela manhã com o cachorro sem se importar com o fato.
— Estou acostumado com o barulho, nem ouvi. Se tu não me disseste, eu nem saberia — diz.
Com notas musicais distintas, os sinos tocam juntos apenas nas manhãs de domingo, às 9h45min, e na tarde de sábado, às 16h45min — nas duas oportunidades, são acionados manualmente.
O fabricante do sino foi informado sobre o fato e um sistema para bloquear o motor durante a noite deve ser instalado.