Ao morrer, com 113 anos, enquanto dormia, no último domingo, o japonês Masazo Nonaka deixou para outro Matusalém do terceiro milênio o posto de homem mais velho do mundo. Ele era o primeiro da fila porque fora reconhecido pelo Guinness World Records no ano passado. Havia – e há – outros pretendentes ao título, mas carentes de confirmação oficial. Tem até um indonésio da província de Java Central que celebrou 146 anos em 31 de dezembro passado. A família acredita e as autoridades indonésias também, mas a autenticidade de seus documentos não é reconhecida por observadores independentes. Um nigeriano e um etíope também afirmam ter, respectivamente, 171 e 163 anos, só que não possuem registros para provar – e, compreensivelmente, nem testemunhas de suas histórias de vida.
Seu Nonaka, porém, estava em dia com o cartório. Ele nasceu em 25 de julho de 1905 e trabalhou até a véspera do sono eterno, ajudando a neta na administração da pousada da família na estação termal de Ashoro, no Japão, país que tem o maior número de longevos em todo o mundo. Acho que é por isso que até o tradicionalista Mano Lima já anda comendo sushi. A brincadeira rendeu música, mas a verdade é que, mesmo comendo picanha e carreteiro, os gaúchos também estão vivendo mais, como muitos brasileiros. No Brasil e na maioria dos países, cada vez mais gente ultrapassa a barreira dos cem – e o inegável aumento da expectativa de vida acaba sendo um fator determinante para que a Previdência seja a mãe de todas as reformas.
Porém, o problema é tão intrincado, que sucessivos governos vêm postergando medidas que já deveriam ter sido tomadas há muito tempo, entre as quais o aumento da idade mínima para a aposentadoria. Parece simples e justo que o limite etário seja elevado cada vez que a expectativa de vida aumenta, mas tudo se complica num país desigual como o nosso. Mesmo nos grandes centros urbanos e nas áreas industrializadas, há disparidades gritantes. Entre regiões, então, nem se fala. Só para ficarmos num exemplo fácil de entender, um catarinense vive em média quase uma década a mais do que um maranhense. Tem município brasileiro com expectativa de vida tão baixa, que, com o aumento da idade mínima, ninguém se aposentaria antes de morrer – e nem depois, obviamente. Como fixar um limite geral diante desta realidade?
Bem, a batata quente está nas mãos do seu Guedes, que talvez traga de Davos alguma fórmula mágica. Espero que ele volte dizendo que, junto com a reforma da Previdência, o Brasil também vai fazer uma reforma dos privilégios. Enquanto isso, só nos resta torcer para que os idosos brasileiros ultrapassem os cem anos – como o senhor Nonaka – e possam trabalhar até o último dia de suas vidas. O velhinho japonês quase levou à prática aquela frase divertida que o saudoso colega Paulo Sant'Ana pendurou junto à poltrona que utilizava para tirar uma soneca antes de escrever sua crônica:
– Se eu estiver dormindo, me deixe dormir. Se eu estiver morto, me acorde.