Ela tem idade de sobrinha, apenas 23 anos, mas revelou-se mais do que tia – madrinha, amiga, anjo – para Júlia, de oito anos, órfã e paciente terminal de leucemia num hospital de São Paulo. Gabriella Pereira conheceu Júlia no abrigo de crianças abandonadas da cidade paulista de Carapicuíba, onde a garotinha morava antes da doença levá-la à internação. A jovem bancária frequentava a instituição com regularidade e apaixonou-se pela menina quando percebeu que ela era a única que não recebia visitas de familiares. Passou a vê-la três vezes por semana e chegou a ingressar com um pedido de adoção, mesmo sabendo que seria difícil conseguir, por ser demasiado jovem e solteira. Não deu tempo.
Júlia morreu no último dia 9, deixando uma comovente mensagem de despedida escrita na sua agenda da Branca de Neve, um dos presentes da madrinha voluntária. Gabriella também cortou os próprios cabelos para fazer uma peruca para a menina quando a quimioterapia deixou a sua marca. Fez mais: comprou brinquedos para ela, levou sorvete de morango ao hospital no seu aniversário, presenteou-a com as desejadas sandálias de salto alto e providenciou o lanche que ela pediu depois de ver a propaganda na tevê. Por fim, sabendo que não havia mais recursos para a doença, rezou para que Deus a levasse e o sofrimento terminasse.
A cartinha de despedida da criança, escrita com a ajuda de uma enfermeira, tem gratidão, amor e dor em cada frase. Mas a mais tocante e emblemática, na minha modesta interpretação, é a que diz: "Eu queria que você fosse a minha mãe".
Pois, lendo essa história enternecedora, concluí que a jovem Gabriella foi, nesse breve período de amor incondicional, o que sempre me pareceu impossível: mais do que mãe.