O ministro mais lúcido do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, disse à jornalista Carolina Bahia (em excelente entrevista publicada na véspera da virada de ano) que o Brasil precisa firmar três grandes pactos para passar da velha ordem (corrupção, jeitinho, impunidade etc) à nova – por enquanto, representada pelo desejo inequívoco de moralidade, manifestado nas urnas pela maioria da população. O primeiro seria um pacto de integridade, tanto na área pública quanto na iniciativa privada. Em síntese: não roubar, não deixar roubar e não corromper. O segundo conjugaria responsabilidade fiscal e justiça social. Traduzindo: menos Estado e melhor distribuição de renda. O terceiro, segundo o magistrado, deve ser um pacto pela educação básica. De novo, minha interpretação: mais brasileiros letrados, informados e capacitados a gerir o próprio destino.
Concordo com o conteúdo, mas discordo do formato proposto. Adoraria ver o país pacificado e focado na prosperidade coletiva. Mas não creio na possibilidade de qualquer pacto. Precisaríamos antes de tudo – como ensina conhecida anedota futebolística – combinar com os russos. Isto é, teríamos que envolver nesses acordos de decência não apenas os cidadãos honestos, que nem precisam se comprometer com o que já praticam, mas também os gananciosos, os salafrários e todos aqueles que se consideram mais espertos do que os demais.
Quem assinaria um contrato com essa turminha que o novo ministro da Economia, Paulo Guedes, rotulou em seu discurso de posse como "piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político que se associaram contra ao povo brasileiro"? Com a devida vênia ao ministro Barroso, de quem sou fã de carteirinha, já temos um pacto suficientemente poderoso para garantir à construção de um Brasil melhor e mais digno: é a Constituição Federal. Basta que seja respeitada e cumprida.