Meu pai tinha uma vogal para resumir algo que ele achasse muito relevante, algo que chamasse sua atenção a ponto de preparar todo um ritual à espera do evento. Se eu perguntasse a José Mauro Saraiva, que hoje vê futebol do Céu, o que ele diria sobre Caxias x Grêmio e Juventude x Inter, sua resposta seria a manchete da coluna. "Ô, que jogo!". Ao contrário do filho, prolixo e cheio de vírgulas para qualquer assunto, o Tata daria por definidos os confrontos do fim de semana. Ponto.
Veja o Caxias, por exemplo. É menos time do que o Grêmio, tem menos peças de reposição, seu investimento é imensamente menor no departamento de futebol e seu futuro se encerra apenas com a disputa do Brasileirão Série C. Experimente tentar convencer Argel Fuchs de que estão postos à mesa todos os argumentos que garantem derrota do seu time no Centenário neste sábado (16) à tarde. Os melhores trabalhos do treinador têm a marca da irresignação.
Dias atrás, o Bahia fora de casa foi claramente melhor do que o Caxias, virou para 2 a 1 o jogo que perdia de 1 a 0 e teve três ou quatro chances de transformar a vitória em goleada. Os comandados de Argel, no entanto, corriam por mais de 11 e suavam em bicas em busca do empate, que veio quase no fim num cabeceio de Robinho, chamado no segundo tempo pelo treinador para renovar o ataque. Nos pênaltis, onde se mistura treino com equilíbrio emocional, o Caxias foi eliminado, mas a invencibilidade de Argel Fuchs se manteve.
A tal irresignação do Caxias vai estar potencializada no jogo de ida das semifinais porque o confronto regional põe cores mais fortes no jogo. Todos em Caxias sabem que a partida menos difícil de ganhar é esta, a primeira. Na abertura do campeonato, o Caxias virou sobre o Grêmio com justiça. De lá para cá, o time do Renato recebeu reforços importantes de dentro e de fora do grupo.
Surgiu Gustavo Nunes, que à época discutia renovação de contrato, chegaram Pavon e Diego Costa. Veja que estou tratando de um setor inteiro. O Grêmio ainda está desequilibrado entre o atacar e o defender, talvez Portaluppi nem consiga reduzir este desequilíbrio e ainda assim, não esqueçamos, chegou a vice-campeão brasileiro no top 3 dos melhores ataques e no top 5 das piores defesas do Brasileirão.
Não há mais Suárez, mas o conjunto de peças ofensivas será capaz de compensá-lo. No meio, a dificuldade de marcar continua, mesmo que Du Queiroz tenha sido contratado para atenuar o problema. O Grêmio ainda pretende ir ao mercado para a Libertadores, é fundamental que o faça para ter melhor perspectiva de sucesso na principal competição do seu calendário. No Gauchão, quem está aí é que vai jogar. Zero acréscimo além dos já citados. O favoritismo do Tricolor é claro. Mas, cansativamente, repito que se bastasse favoritismo não era preciso jogar. Reunia-se um Conselho de Notáveis — Renato talvez dissesse que seria formado por cornetinhas do ar-condicionado — e se decidia quem era o melhor e pronto, ninguém suava e a vida seguia. Felizmente, não é assim. Não fosse a insensata medida da direção do Caxias cobrando R$ 200 o ingresso para torcida visitante, o Centenário explodiria de gente neste sábado.
Na condição de capital do futebol gaúcho neste fim de semana, Caxias do Sul terá outro enorme jogo no domingo (17). O Juventude cresceu na hora em que era vital que crescesse, mas não se trata só de atitude ou ajuste tático. Roger Machado, excelente treinador, errava ao deixar Lucas Barbosa, um dos seus artilheiros, no banco de reservas. Imaginou, quando começou a sequência de seis jogos sem vitória, que era preciso agir, só que viu como problema o que era uma das soluções para seu time.
Lucas Barbosa voltou a ser titular na goleada de 4 a 0 sobre o Guarany em Bagé e ficou no time na vitória de 3 a 1 contra o Paysandu na Copa do Brasil. Ele, Jean Carlos e especialmente Gilberto passaram a ser perigo iminente para o adversário. Eles se entendem e se completam. Gilberto é de dentro, homem de conclusão com força física e explosão. Jean Carlos, o armador que está em campo para servir o atacante, o que não o impede de entrar na área para a conclusão. Lucas Barbosa volta para compor o meio sem a bola e, com ela, vira atacante de bom chute e ótimo cabeceio.
O Juventude é inferior ao Inter em qualquer dos quesitos do jogo. Porém, tal como o Caxias, sabe que seu jogo é o primeiro. Com uma política de preços mais inteligente do que a do rival, é bem provável que consiga lotar o Alfredo Jaconi. O favorito da disputa vem de mais uma vitória normal na Copa do Brasil, como normais têm sido as que alcança no Gauchão. Entenda normal aqui como um grande elogio. A época em que o Inter fazia uma epopeia para vencer adversários menos qualificados do que ele parece ter passado. Fruto de um ótimo trabalho de Coudet no manejo das peças que a direção colorada coloca à sua disposição em 2024, o Colorado tem momentos de encantamento na temporada e soma 10 vitórias seguidas contra todo tipo de adversário. Já ganhou de sem série, de Série D, Série C e Série A. Suas vitórias estão sempre acompanhadas de bom desempenho.
A torcida comprou a ideia de um Inter mais forte do que em todos os anos anteriores recentes, o quadro social se aproxima de 140 mil colorados. O círculo virtuoso está estabelecido, a imprensa do centro do país reconhece no timr um candidato a tudo que vá disputar neste ano. Este contexto positivo é inédito no passado de curto e médio prazos de quem veste vermelho. Desde 2015, quando o Inter somava Aránguiz, D'Alessandro, Valdívia e Nilmar do meio para a frente e chegou às semifinais da Libertadores não se via tanta qualidade. Arrisco dizer que este grupo de 2024 é superior ao de nove anos atrás. Então, só o campo pode confirmar ou desmentir tanto otimismo. A lógica sinaliza o Inter favorito ao título gaúcho. É quando voltamos àquela história de que: se bastasse favoritismo...