Tite não é imune à crítica, nunca foi quando atuava no Rio Grande do Sul, menos ainda quando virou um treinador nacional e depois universal. O currículo dele, no entanto, lhe garante o direito a reparos sem radicalismo. Mesmo depois de um de seus auxiliares revelar que a comissão técnica brasileira foi surpreendida pela postura tática da Bélgica nas quartas de final, o que seria grave, caso verdadeiro, não vi ninguém na imprensa ou na torcida clamando pela troca de técnico na Seleção para o ciclo que vai se iniciar.
Tite, aliás, deve ter pedido tempo para pensar na proposta feita pela CBF para calibrar a imagem que restou de seu trabalho após a eliminação. Vendo que as resistências inexistem, ele agora pode avançar para as condições inegociáveis de uma eventual sequência no comando. E a maior delas, tenho certeza, diz respeito à solidez do projeto 2022.
Vem aí uma Copa América no Brasil, que corresponde à Eurocopa. Se uma campanha ruim ou mesmo um vice-campeonato em casa ameaçar o emprego de Tite, não faz sentido ele seguir. Afinal, está a pleno o exemplo mais bem-sucedido de continuidade de trabalho. Didier Deschamps perdeu uma Eurocopa em casa para um time nitidamente inferior ao seu. A Federação Francesa manteve o técnico e acaba de vê-lo campeão do mundo. Entre uma competição e outra, dois anos.
Tite, caso permaneça, terá a missão de renovar a equipe em posições essenciais. O custo pode ser maior do que o esperado. E aí, como é que faz? Ajudar Neymar a centrar de novo o rumo de sua carreira é outra missão vital para Tite. Não abandonar Gabriel Jesus à própria sorte diz respeito às suas atribuições, da mesma forma que enquadrar Douglas Costa como um dos seus novos titulares. Inserir os meninos emergentes — Vinícius Júnior, Paulinho, Lucas Paquetá, Rodrygo — e dotá-los de competitividade não será menos importante. Finalmente, reabrir as portas da Seleção para quem poderia ter ido, e não foi, fecha a lista das principais tarefas de Tite ou de quem assumir o cargo. O treinador multicampeão já descansou, pensou, sentiu o acolhimento do seu nome junto à opinião pública e tem todos os elementos para estabelecer suas condições e trabalhar. Não há por que demorar mais. O Catar está logo ali, virando a esquina.