Ao indiciar o general Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, a Polícia Federal (PF) afirma que ele participou ativamente de um movimento coordenado para pressionar os comandantes do Exército e da Aeronáutica a aderirem a um golpe de Estado. Na ocasião, segundo conclusão da PF, a recusa do general Freire Gomes (Exército) e do tenente-brigadeiro do ar Baptista Júnior (Aeronáutica) ao plano teria sido o principal empecilho para a sua realização.
“Foram identificados fortes e robustos elementos de prova que demonstram a participação ativa, ao longo do mês de dezembro de 2022, do General BRAGA NETTO na tentativa coordenada dos investigados de pressionarem os comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito”, descreve relatório da corporação.
Enquanto o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, teria apoiado o plano, os outros chefes das Forças Armadas passaram a ser considerados inimigos de quem planejava o golpe. A partir daí, segundo a investigação, Braga Netto se valeu do “modo de agir da milícia digital” e determinou a outros investigados que promovessem e difundissem ataques pessoais a Freire Gomes, a Baptista Júnior e a seus familiares.
Para a PF, Braga Netto está no centro da trama golpista, e os elementos probatórios obtidos ao longo da investigação “evidenciam a sua participação concreta nos atos relacionados à tentativa de Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito”, inclusive na tentativa de atrapalhar e obstruir as investigações.
A busca realizada na sede do Partido Liberal (PL) encontrou um documento que descreve perguntas e respostas relacionadas ao acordo de colaboração premiada de Mauro Cid.
“O conteúdo indica se tratar de respostas dadas por MAURO CID a questionamentos feitos por alguém, possivelmente relacionado ao general BRAGA NETTO, que aparenta preocupação sobre temas identificados pela Polícia Federal relacionados à tentativa de golpe de Estado, evidenciando que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do acordo de colaboração”, diz o relatório, que também aponta a busca de informações sobre os depoimentos junto aos pais do tenente-coronel.
Como já havia sido divulgado após a deflagração da Operação Contragolpe, houve uma reunião na casa de Braga Netto na qual teria sido discutido o planejamento para sequestrar e executar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o então presidente eleito Lula e seu vice, Geraldo Alckmin.
Este encontro serviu, diz a PF, para o general Mario Fernandes “apresentar o planejamento das ações clandestinas com o objetivo de dar suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário”. Na ocasião, conforme os investigadores, “o planejamento foi apresentado e aprovado” por Braga Netto.
A reunião contou também com a presença do tenente-coronel Mauro Cid, que atuava como ajudante de ordens de Bolsonaro, do major Rafael de Oliveira e do tenente-coronel Ferreira Lima.
A participação do candidato a vice de Bolsonaro também aparece no plano do que seria o momento posterior ao rompimento democrático. Os investigados teriam planejado a criação de um gabinete vinculado à Presidência da República, que seria composto em sua maioria por militares. A Polícia Federal aponta que eles seriam liderados por Braga Netto e pelo general Augusto Heleno, à época ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
A crença de Braga Netto de que o governo não acabaria em 2022, mesmo com a derrota nas urnas, também é demonstrada, segundo a PF, em uma troca de mensagens em que um militar pede orientações para encontrar uma vaga de emprego para outra pessoa no Executivo federal, ocorrida em 27 de dezembro daquele ano.
O capitão Sérgio Rocha Cordeiro enviou uma mensagem com o currículo para Braga Netto, com a seguinte pergunta: “Onde eu posso enviar esse currículo de uma amiga aqui em Brasília...?”. Em resposta, o general disse: “Cordeiro, se continuarmos poderia enviar para a Sec Geral. Fora isso vai ser foda”.
Para os investigadores, é evidente que a quatro dias do término do mandato o general ainda expressava a possibilidade de seu grupo político continuar no poder.