Estabelecido em Brasília há oito anos, posso dizer que me acostumei com o período de seca. Enfrentar cinco ou seis meses com sol a pino e sem um pingo de chuva não deixa de ser desconfortável para quem foi criado na umidade no Rio Grande do Sul. O que acontece neste ano, contudo, é diferente de tudo. Os incêndios que consomem o Parque Nacional de Brasília espalharam fumaça no centro do poder, invadiram prédios e casas, levaram as pessoas a retomarem o uso de máscara nas ruas.
Não é exagero dizer que está difícil respirar em algumas regiões. Os olhos ardem, o nariz fica seco, a cabeça dói. Os focos de incêndios aumentaram no último domingo (15), já consumiram mais de 700 hectares de floresta e mudaram a coloração do céu.
A situação piora à noite e no começo da manhã. Não adianta fechar as janelas, usar ventilador ou ar-condicionado. A fumaça entra e fica impregnada nas cortinas, nas roupas de cama, até mesmo no que está guardado dentro do armário.
O prédio onde moro fica a seis quilômetros do parque que está em chamas. Nos corredores, dentro dos elevadores e dos apartamentos, além do forte cheiro de fumaça, é possível enxergar uma nuvem acinzentada. Há fuligem nas janelas e sobre os carros.
O parque também fica a poucos quilômetros da Esplanada dos Ministérios, próximo da residência oficial da Presidência da República e de outros prédios públicos. Mas o cheiro é perceptível também de longe, em bairros que ficam a mais de 30 quilômetros de distância.
Com uso de 40 viaturas e 500 bombeiros, o governo do Distrito Federal informou, nesta terça-feira (17), que os maiores focos foram controlados. Mas alertou que a fumaça ainda vai demorar a se dissipar, e que será necessário um monitoramento maior para que novos incêndios sejam evitados.
Em Brasília e outras cidades do Centro-Oeste, o vento e a seca extrema facilitam a propagação de incêndios. O mais triste é que, a exemplo de vários casos no Brasil, a principal suspeita no Parque Nacional é de que o fogo tenha começado por ação humana.