Ao tomar posse como procurador-geral da República, nesta segunda-feira (18), Paulo Gonet evidenciou os motivos de conquistar o apoio do presidente Lula e da maioria das lideranças políticas, da esquerda à direita. Em um discurso marcado por sua conhecida discrição, ele deixou claro que vê o Ministério Público (MP) como "corresponsável" pela preservação da democracia no país, em um papel que não deve buscar "palco nem holofotes". O discurso antecedeu a fala de Lula no evento, em que o petista fez referências indiretas à Lava-Jato para dizer que o MP "não pode achar que todo político é corrupto".
Em mais uma demonstração de alinhamento ao que a maioria da classe política defende, Gonet ressaltou que o Ministério Público não tem o papel de “formular políticas públicas, nem deliberar sobre a conformação social e política das relações entre os cidadãos”. A fala conforta os críticos da suposta “invasão” do MP em temas de responsabilidade do Executivo e do Legislativo.
— Essas decisões essenciais estão reservadas ao povo, que se expressa por meio dos representantes eleitos para isso — pontuou Gonet.
Outra consequência da Lava-Jato, a divisão interna da instituição será enfrentada, segundo o procurador, para assegurar “coordenação e disciplina”.
Lula foi mais direto em seu discurso, e deixou claro a Gonet o motivo de tê-lo escolhido. Quer deixar para trás o período em que detalhes de investigações dominavam o noticiário, em uma estratégia que o petista considera um julgamento antecipado.
— As acusações levianas não fortalecem a democracia, não fortalecem as instituições — afirmou Lula, acrescentando que muitas vezes “se destrói uma pessoa antes de dar a ela a chance de se defender".
A distância dos holofotes é legítima. O que Gonet e seus pares precisarão mostrar para a sociedade, agora, é que o zelo pela discrição e pela responsabilidade não significarão omissão ou conivência com ilícitos.