O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao recém-empossado procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, que faça com que a "verdade prevaleça acima de qualquer interesse" no Ministério Público (MP). O chefe do Executivo disse que "um procurador-geral não pode se submeter nem a outros poderes nem a manchetes de jornais" e também não tem "direito de brincar" com o MP.
— O Ministério Público é uma instituição tão grande que nenhum procurador tem direito a brincar com ela. O MP é de tamanha relevância para a sociedade brasileira e processo democrático deste país que um procurador não pode se submeter a um presidente da República, a um presidente da Câmara, ao presidente do Senado, aos presidentes de outros poderes, mas também não pode se submeter a manchete de nenhum jornal ou canal de televisão — declarou Lula em discurso na cerimônia de posse de Gonet nesta segunda-feira (18).
Lula iniciou a fala dizendo que não iria fazer um discurso, mas apenas um pedido a Gonet:
— Em nome do que você representará na história deste país, peço que você só tenha uma preocupação: fazer com que a verdade, e somente a verdade prevaleça, acima de qualquer outro interesse — declarou.
O presidente disse estar emocionado ao voltar à sede do Ministério Público e destacou o papel da PGR na sociedade brasileira. Ao lembrar de sua época enquanto era deputado constituinte, Lula disse ter visto a luta, sob a orientação do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Sepúlveda Pertence, que foi feita para que se pudesse, atualmente, "dar ao Ministério Público a estrutura que ele merecia".
Lula pede que MP não considere que todo político é corrupto
Lula pediu em seu discurso na posse de Gonet que o Ministério Público "não ache que todo político é corrupto". O petista voltou a pregar contra a negação da política, e citou os ataques de 8 de janeiro como consequência da deslegitimação da atividade.
— Não existe a possibilidade de o Ministério Público achar que todo político é corrupto — disse o presidente da República.
Ele também declarou que acusações levianas não fortalecem a democracia e afirmou que não se deve permitir vazamentos de investigações antes de a veracidade das informações ser confirmada.
A fala de Lula na posse da PGR tem simbolismo porque o petista foi o principal alvo da Operação Lava-Jato. O presidente ficou preso 580 dias por causa da operação, e depois teve os casos anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A reação à Lava-Jato é uma tônica de seu governo, apesar de Lula não ter mencionado a operação no discurso.
O presidente da República pediu a Gonet para que ele não faça o Ministério Público "se diminuir" diante da expectativa da população. Lula também disse que nunca pedirá um favor pessoal ao novo procurador-geral, e que o MP precisa "jogar o jogo de verdade".
Paulo Gonet foi escolhido para o comando da Procuradoria-geral da República sem ter sido incluído pelos procuradores na lista tríplice elaborada pela categoria. Lula vinha dizendo desde a campanha de 2022 que não necessariamente iria se ater aos nomes escolhidos pelos procuradores — em seu primeiro governo, o petista havia respeitado a lista tríplice.
Um dos motivos de a lista tríplice ter sido abandonada é o ressentimento do PT com Rodrigo Janot, que foi o procurador-geral da República durante o auge da Lava-Jato. Mais votado da lista tríplice quando de sua escolha, por Dilma Rousseff, Janot não só deixou a força-tarefa de Curitiba agir sem obstáculos como teve protagonismo em algumas investigações da operação.
Ficou famosa frase do então procurador-geral em 2017. No fim de sua passagem pela chefia do MPF, Janot foi questionado se manteria o ritmo das investigações até o fim de seu mandato. Respondeu o seguinte:
— Enquanto houver bambu, vai ter flecha.