Engana-se quem pensa que o bolsonarismo irá desaparecer com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de tornar Jair Bolsonaro (PL) inelegível por oito anos. O valor do espólio do ex-presidente, no entanto, dependerá diretamente da disposição dele em transferir o apoio que possui junto à população — o que passa por uma mudança radical de comportamento.
O ex-presidente tem dito que possui uma "bala de prata" para concorrer em 2026, o que parece apenas mais um blefe. Mas a capacidade dele de influenciar as eleições é inegável, ainda mais se conseguir potencializar fora de sua bolha o discurso de perseguido pela Justiça.
O envolvimento do ex-presidente em campanhas eleitorais e no apadrinhamento de candidatos sempre foi um problema para os aliados. Antes e durante o período em que esteve na Presidência da República, se acumularam queixas de falta de lealdade e comprometimento com o próprio partido e com siglas parceiras.
A viagem a Porto Alegre, há duas semanas, foi uma das raras demonstrações de compromisso com o PL. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, já deixou claro que exigirá este empenho para vitaminar candidaturas às câmaras municipais e às prefeituras no ano que vem. Se for correspondido, promete usar seu poder e influência para dar guarida ao ex-presidente.
A se considerar o histórico personalista do ex-presidente, no entanto, não será surpresa se ele adotar comportamento semelhante ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que insistiu em concorrer em 2018 mesmo estando preso em Curitiba.
Na época, a decisão do petista enterrou a possibilidade de novos nomes surgirem com força na esquerda e colocou naquele ano o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em uma situação vexatória, como simples representante de um suposto perseguido político.
Naquele pleito, o PT continuou como um dos maiores partidos da Câmara. Quatro anos depois, ao se eleger para o terceiro mandato, Lula também comprovou capacidade em ler cenários e sua força junto ao eleitorado, mas fez questão de apagar qualquer sombra à sua autoridade.
Muito além de um nome, lideranças da direita que estejam dispostas a apresentar uma alternativa precisam demonstrar união em torno de um projeto de país. De uma proposta que tenha verdadeiro compromisso com a democracia e vá além do populismo, do discurso de perseguição, das notícias falsas e de mentiras contra o sistema eleitoral.