Para entender o tamanho do esforço que ainda precisa ser feito para reconstruir o Rio Grande do Sul depois do dilúvio de maio, é bom colocar os números para conversar.
Ainda sem detalhamento, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estima a perda do RS em R$ 87 bilhões e o existe um fundo destinado a essa finalidade de R$ 14 bilhões. "Faltariam", então, R$ 73 bilhões? Não é bem assim.
Conforme o Painel da Reconstrução, ferramenta cidadã do Grupo RBS (clique aqui para checar os dados), os governos federal e estadual se comprometeram a aplicar na reconstrução do RS R$ 101,5 bilhões, dos quais já pagaram R$ 53 bilhões. Estariam "sobrando" R$ 14,5 bilhões? Também não.
O dado do Banco Mundial converge para uma das primeiras estimativas que a coluna colheu, quando a água nem havia baixado. É um alívio saber que essa metodologia reconhecida globalmente relativiza estimativas que beiraram os R$ 180 bilhões.
Ainda não se conhecem os detalhes do trabalho que deveria ser o "definitivo", essenciais para estimar com mais clareza o que ainda falta. Boa parte dos recursos aplicados até agora, tanto por governos quanto por organizações da sociedade, inclusive empresas, foi consumida nas fases de emergência e reparação. Permitiu amortecer a queda do PIB, mas ainda falta muito a fazer.
Uma condição essencial é devolver as casas que os gaúchos perderam. E quatro meses depois da enchente, os governos federal e estadual entregaram apenas 434 moradias, das quais 58 provisórias. A promessa de entrega de 500 casas em três meses, feita em junho com recursos privados, parece longe de ser alcançada.
Pontes e estradas vão sendo recuperadas, muitas de forma emergencial, sem atenção ao necessário aumento da resiliência a novas tempestades que a mudança do clima torna mais severas e frequentes, como constatamos com tristeza com a volta da chuva volumosa ao Estado.
É efeito da burocracia, mas também colateral da enchente: é preciso encontrar áreas não inundáveis, regularizá-las e preparar a infraestrutura para colocar as casas. E pontes e estrada mais resilientes precisam de projetos qualificados. Isso demora. Então, a coluna registra, reconhece, mas seguirá, assim como o Painel da Reconstrução, fazendo seu papel: cobrando ação e respostas. Sem exasperação. Mas sem baixar a guarda.