Uma articulação pública e privada para garantir que o Estado possa contar com maior volume de gás natural passou a avançar de forma estruturada.
A origem foi um episódio da enchente: sob risco de falta de luz na Grande Porto Alegre, foi acionada a térmica de Canoas, construída para funcionar com óleo diesel, muito poluente, depois convertida para operar também com gás natural.
Conforme Marcelo Leite, diretor-presidente da Sulgás, empresa privada que distribui gás no RS, só foi possível abastecer a usina por 14 dias, período mais crítico da restrição energética, porque indústrias pararam ou reduziram a operação. Caso contrário, toda a capacidade disponível no gasoduto Brasil-Bolívia estaria comprometida.
Um dos motivos para a restrição é o próprio projeto do gasoduto, que tem formato "telescópico": começa com diâmetro de 32 polegadas em Corumbá e termina com 16 polegadas em Canoas. Esse afunilamento restringe o volume de gás que pode chegar ao RS para 2,4 milhões de metros cúbicos ao dia.
— Se a indústria tivesse voltado antes, teria faltado gás. E essa restrição também limita o crescimento do Estado — avalia Marcelo.
Como a solução da emergência uniu vários agentes, resultou na articulação que visa criar condições de aumentar o volume disponível de gás natural que, apesar de ser fóssil, é considerado um combustível de transição energética por gerar menos gases do efeito estufa.
Há duas opções no horizonte: instalar estações de compressão na estrutura existente, o que já foi feito antes, e construir um duto paralelo. A segunda exigiria investimento mais robusto da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), dona do equipamento, que está envolvida na articulação.
Controlada pela Petrobras, a TBG tem perspectiva de investir entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões no trecho sul, mas com prazo até 2029, que Sulgás e governo do Estado consideram longo demais.
Conforme o presidente da Sulgás, há demanda reprimida por falta de capacidade de ao menos 400 mil m3/dia, cerca de um sexto do volume disponível. Por isso, o próximo passo será mapear outras necessidades para mostrar à TBG que acelerar o investimento pode dar retorno.
Há uma dezena de organizações na articulação, entre as quais TBG e TSB, Agergs, Fiergs, governo do Estado, Federasul, Abegás e Commit Gás, além da própria Sulgás. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura montou grupo de trabalho para acompanhar o assunto.
Nos últimos anos, surgiram alternativas para reforçar o abastecimento de gás no RS, mas até agora nenhuma se concretizou. É o caso do gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre, que seria alimentado por gás da jazida argentina de Vaca Muerta e o projeto de Rio Grande.
O primeiro travou no veto do atual presidente da Argentina, Javier Milei, de aplicar recursos públicos de aplicar recursos públicos em infraestrutura. O segundo, no veto da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) à transferência do controle da empreitada.