A concessão de licenças para a instalação de um complexo à base de gás natural no município de Rio Grande, no sul do Estado, a um custo aproximado de R$ 6 bilhões, é vista por especialistas como um ponto de mudança de patamar do Rio Grande do Sul em termos de infraestrutura.
Consultores ouvidos por GZH apontam que a construção de uma planta de regaseificação associada a uma usina termelétrica deve ter impacto significativo no nível de segurança energética e no poder de atração de novos investimentos.
— Não vejo aspecto negativo nesse projeto, um investimento que o Estado buscava havia muito tempo, e agrega muito à economia tanto pelo prisma da geração de energia elétrica quanto da oferta de gás natural — avalia o CEO e sócio da consultoria especializada Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto.
Um dos gargalos ao desenvolvimento gaúcho é a limitação no fluxo de gás por meio do gasoduto Brasil-Bolívia — o diâmetro da canalização só permite a passagem de 2,8 milhões de metros cúbicos ao dia. O projeto original do complexo em Rio Grande, em comparação, prevê até 14 milhões de metros cúbicos diários, ou cinco vezes mais.
— Não se consegue, por exemplo, despachar a termelétrica Sepé Tiaraju (em Canoas) a gás natural, é sempre a diesel, porque o gás não consegue chegar até ali. Seria possível substituir uma geração de energia mais cara e poluente com a possibilidade de injetar gás — exemplifica o consultor.
Para isso, o combustível será transportado em navios para a futura planta industrial em Rio Grande na forma líquida — por meio da diminuição da temperatura e do aumento da pressão, o gás se torna liquefeito e diminui centenas de vezes de volume. A estação de regaseificação a ser erguida pelo Grupo Cobra, com sede na Espanha, voltaria a elevar a temperatura e devolveria o produto ao seu estado original para ser injetado na termelétrica a ser implantada nas proximidades.
Dos 14 milhões de metros cúbicos potenciais da unidade de regaseificação, pouco menos da metade seria consumida pela termelétrica de Rio Grande. O restante, enquanto não se constrói um gasoduto rumo à Região Metropolitana, poderia ser distribuído por embarcações, por exemplo.
Sócio-fundador da consultoria do setor petroquímico MaxiQuim, João Luiz Zuñeda aponta ainda que a multiplicação na oferta de gás deve estimular a atração de investimentos que dependem da garantia de oferta energética a longo prazo.
— Com esse empreendimento, o Rio Grande do Sul fica com a fronteira aberta para a entrada de gás natural, sem ter de esperar por ampliação do gasoduto Brasil-Bolívia ou da vinda do produto da Argentina — observa Zuñeda.
O especialista em petróleo aponta que a limitação de infraestrutura era um ponto negativo nas análises de possíveis investidores em negócios no RS:
— Um dos fatores avaliados por investidores era o nosso gargalo energético. Agora, isso vai diminuindo, e pode estimular a vinda de empreendimentos em áreas como plástico, borracha, metalmecânica, além de permitir uma melhor distribuição de energia para o agronegócio.